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O equilíbrio é o caminho para manter ambos saudáveis. Mas como chegar lá em momentos como o atual? Especialistas apontam algumas . Matéria do Estadão com colaboração da psicóloga Dorli Kamkhagi e psiquiatra Felipe Corchs, do IPq, sobre saúde mental na quarentena.

direções Ilustrações: Marcos Müller

23 de maio de 2020 | 16h00CONTEÚDO ABERTO PARA NÃO-ASSINANTES

MARCOS MÜLLER/ESTADÃO

Os dias de isolamento avançam pelo calendário e com eles aumentam o medo em relação ao presente e as preocupações com o futuro. Esse período de estresse exacerbado pode se refletir na saúde física, e relatos de unhas quebradiças, cabelos caindo e balança subindo ficaram mais frequentes nas consultas a distância. Esse “pacote” invadiu as sessões de terapia, que se tornaram quase monotemáticas e passaram a abordar os diferentes efeitos da pandemia – cada um sente o peso do momento de uma forma e é natural que seja assim. Falar sobre os sentimentos faz bem e é uma das recomendações dos especialistas, que sugerem também um esforço para mudar o foco quando a angústia e a ansiedade derem sinais.


REPORTAGENS

O CORPO FALA – E RECLAMA QUANDO A SAÚDE MENTAL NÃO ESTÁ EM DIA

Cabelo caindo, unhas quebradiças e problemas de pele podem estar relacionados ao estresse do isolamento. Aprenda a lidar com os problemas

Maria Fernanda Rodrigues


Beatriz Albuquerque não comia doce depois das refeições. Gostava de beber alguma coisa alcoólica, mas isso não era um hábito. Não jogava. Isolada em casa há mais de dois meses, ela está incomodada com o rumo que as coisas estão tomando. “Hoje eu como doce numa quantidade muito maior e já devo ter engordado. E bebo todos os dias. Duas cervejas na hora do almoço. Ou vinho, aperol. Não é uma dose excessiva e não fico alcoolizada, mas bebo todos os dias. E passei a jogar buraco pelo telefone horas a fio”, diz, aos 68 anos, a professora de fotografia aposentada.

Fumante dos 13 aos 60, com algumas idas e vindas no vício, ela acredita ter alguma tendência compulsiva, que se expressa agora nesses novos hábitos. A vontade de fumar também voltou forte, mas essa ela está tentando controlar. Sucumbir seria ainda mais frustrante. “Eu e meu marido somos grupo de risco. Minha filha que vive na França vai ter bebê e eu, que ia passar três meses lá, não vou poder conhecer minha primeira neta tão cedo. E não quero morrer antes de conhecê-la”, diz.

Ela, que sempre foi muito ativa, que gostava de ler e tudo o mais, sente a depressão se aproximando, e comenta que esta entrevista pode ser um divisor de águas no isolamento. “Falando sobre isso agora, vejo que preciso mudar. Só está difícil sair dessa roda viva. Sinto que estou na pior fase, no olho do furacão.”

Em casa há 2 meses, Beatriz aumentou consumo de doces e bebidas alcoólicasACERVO PESSOAL

O que acontece com Beatriz não é muito diferente do que se passa, hoje, na casa de milhares de pessoas mundo afora. O medo e a insegurança diante do avanço do coronavírus, a ansiedade por não saber aonde isso tudo vai nos levar e o estresse da quarentena se refletem nessa vontade maior de comer e de beber. E também na nossa pele – na queda de cabelo, nas unhas quebradiças, na coceira, no agravamento da psoríase e do vitiligo, e por aí vai. Uma sugestão de especialistas para o tratamento para qualquer um desses distúrbios? Mudar o foco. Cuidar da saúde mental e da alimentação.

‘A pele é um órgão de expressão’. Uma pessoa que era extremamente minuciosa em seu trabalho se pega agora limpando todos os cantos da casa. Os efeitos podem ser vistos em sua mão, em uma dermatite de contato, que a leva a constatar que ela sempre teve um transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Outra, que estava conseguindo controlar a queda de cabelo, relata agora que o problema voltou. Voltaram a aparecer lesões em uma mulher que estava com o vitiligo controlado. Em outro caso, uma pessoa conta que tem sensações diferentes na pele sem nenhuma causa orgânica. E uma mulher está com uma crise de urticária também sem causa.

Esses casos são relatados pela médica Márcia Senra, coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que conta que aumentou a procura por tratamento de problemas de pele durante a pandemia – como aumentaram os casos de autoagressão, como espremer, com raiva e determinação, uma espinha até se machucar. “A ansiedade está tão alta que a pessoa não raciocina: vai descarregar isso na pele”, alerta. “A pele é um órgão de expressão de muita coisa, porque ela vem do próprio sistema nervoso. Na formação do embrião, ela vem do mesmo folheto. Portanto, o cérebro está ligado à pele”, explica.

‘A ansiedade está tão alta que a pessoa não raciocina: vai descarregar isso na pele’

Márcia Senra, coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Márcia comenta que o momento é delicado e que algumas pessoas que já tinham patologias psiquiátricas, mesmo que escondidas, estão sentindo no corpo por não terem mais a rédea da própria vida. Mas não é, exatamente, que o estresse cause essas doenças. “A pessoa já tem uma condição ou uma genética, e o estresse ou o trauma exacerbam isso”, explica.

O que fazer, então? Aprender a cuidar de si, responde a dermatologista. “Falo há muito tempo que o médico tem de ensinar o paciente a cuidar da própria vida e da saúde. E isso está ‘gritando’ agora, é obrigatório. As pessoas vão ter de mergulhar dentro de si para ver o que podem fazer para baixar essa ansiedade.”

Márcia Senra gosta das técnicas de atenção plena, conta que já utilizou com pacientes dermatológicos e que tem sido também ensinada a crianças. “Com ela, aprendemos a não brigar com os sintomas, mas aceitá-los. Está comprovado em vários trabalhos científicos que isso muda áreas do cérebro.” Muitas dessas doenças são crônicas – têm controle, mas não têm cura – e ficar revoltado só vai piorar, alerta.

Apetite e questões emocionais. O sedentarismo e a má alimentação são dois fatores a serem observados com mais atenção durante a quarentena, alerta o médico Madson Queiroz, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Para ele, os hábitos alimentares são influenciados pela ansiedade e ganhar peso tem sido uma rotina neste período de isolamento.

“Está todo mundo em casa, mais tenso e ansioso, e uma consequência disso é o aumento da ingestão calórica que, na maioria das vezes, são calorias de péssima qualidade, como carboidrato e gordura”, diz. Se existe uma “fome emocional”? “A fome é uma só, mas o apetite é diretamente relacionado a questões emocionais. Esses transtornos de ansiedade pelo qual todos estamos passando geram um mecanismo de compensação e a forma mais frequente de se procurar uma compensação é na alimentação”, explica.

‘Esses transtornos de ansiedade geram um mecanismo de compensação, e a forma mais frequente de se procurar uma compensação é na alimentação’

Madson Queiroz, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia

Madson Queiroz também indica a mudança de foco. Respeitar o isolamento social e ter consciência de tudo o que está acontecendo, mas não viver essa pandemia 24 horas. É preciso, ele diz, desconectar um pouco, ler, ver filmes, procurar na internet circuitos de atividades físicas, como alongamento e ioga. “Tentar fazer, na medida do possível, algum exercício em casa é fundamental. Além do benefício físico, isso atenua a ansiedade, tira um pouco o foco dessa situação estressante que estamos vivendo e acaba se refletindo nos hábitos alimentares.”

Uma pesquisa recente mostrou que os americanos relataram estar se alimentando melhor isolados em casa. “Há alguns conceitos estabelecidos que dizem que para você se alimentar bem, você tem de, inevitavelmente, se dedicar a aprender a cozinhar. Comer melhor e comer alimentos frescos e saudáveis passam por você cozinhar e selecionar melhor o que come. Poderia ser o momento para se estimular isso.” Ele, no entanto, não acredita que esse “melhor”, no caso dos americanos, já esteja num nível aceitável, por causa dos hábitos alimentares do país. Tampouco acredita que algo assim esteja acontecendo aqui, embora concorde que seria um grande benefício. “Além desse momento de estresse, a quarentena poderia ser um momento de redescoberta e readaptação.”

Frutas e legumes ajudam a proteger o sistema imunológico. Vale até se forem congeladosTIAGO QUEIROZ/ESTADÃO

Fatores de risco. Queiroz explica que o excesso de peso importante está relacionado a descompensações clínicas, como piora do diabetes e do controle da hipertensão, e isso tudo é muito preocupante porque são fatores de risco para desfechos graves do coronavírus. Nessa situação, alerta, a orientação é que as pessoas entrem em contato com seu médico, conversem e recebam alguma orientação de dieta.

O médico também recomenda que pessoas com diagnóstico de hipertensão tenham alguma forma de monitorar isso, para não precisarem se deslocar a um pronto-socorro sem necessidade. E que diabéticos estejam ainda mais atentos à alimentação e não se esqueçam de medir a glicemia e procurar um médico se ela estiver descontrolada.

E para quem entrou nesta quarentena saudável, sem nenhuma doença identificada? “Neste caso, cuidar da saúde mental é o mais importante. Procure um tempo para outras atividades que não sejam só ficar em grupos de WhatsApp e lendo fake news, não passe o dia todo só ouvindo notícia da pandemia. O cuidado da saúde mental é extremamente importante e passa também por encontrar formas de lazer, manter algum nível de atividade física e bons hábitos alimentares”, finaliza.

Quarentena açucarada. Não é de hoje que ter uma alimentação saudável dá trabalho, e não é de hoje que ela pode servir de prevenção para muitos problemas – e de solução também. A mudança na rotina imposta pelo isolamento fez com que as pessoas mudassem, também, a alimentação. Vinculado a isso, diz Angélica Marques de Pina Freitas, presidente da Associação Paulista de Nutrição, tem a ansiedade do momento que estamos vivendo.

“Essa ansiedade gera, por um mecanismo fisiológico que temos, uma busca por alimentos que nos confortam. E, muitas vezes, esses alimentos são aqueles relacionados à infância ou à família, fazendo com que deixemos de lado o padrão de alimentação saudável que tentamos seguir no dia a dia”, diz.

Doce… o vilão da quarentena. “Ninguém vai dizer: estou nervoso, vou comer uma salada”, brinca Angélica. E é preciso identificar a origem dessa vontade maior de consumir açúcar e tentar controlá-la, buscando substitutos ou um equilíbrio. No caso de uma vontade muito específica, como o pudim da mãe, nada vai substituí-la – nem mesmo o pudim que essa pessoa fizer para se lembrar daquele que ela comia quando criança. Mas tudo bem comer uma fatia de dois dedos, diz a nutricionista.

Fora isso, é preciso saber que café, chá preto e chá mate ajudam a piorar a ansiedade. Para quem está abusando do café, por exemplo, a nutricionista orienta que o ideal é tomar de 2 a 3 xícaras (das de café mesmo, não de chá ou de leite) por dia. E saber também que alimentos com muita gordura terão uma digestão mais difícil e deveriam ser evitados neste estado de ansiedade e nervosismo.

‘Não existe solução mágica’. Para quem busca algo para fortalecer o sistema imunológico, a resposta é a mesma: frutas, legumes e verduras, sempre. Alguns alimentos ajudam, como os ricos em vitamina C (cítricos), vitamina D (leite e derivados, além da exposição ao sol) e ômega 3 (peixes). “Eles podem ajudar, uma vez que a pessoa já tenha um padrão de alimentação saudável. Não adianta comer tudo processado e achar que se chupar uma dúzia de laranja vai estar imune. As pessoas procuram por uma solução mágica, mas não existe. Nosso hábito alimentar é que vai gerar um resultado lá na frente.”

‘As pessoas procuram por uma solução mágica, mas não existe. Nosso hábito alimentar é que vai gerar um resultado lá na frente’

Angélica Marques de Pina Freitas, presidente da Associação Paulista de Nutrição

E aqui voltamos ao começo, à necessidade e à dificuldade de ter alimentos frescos em casa durante a quarentena, e a nutricionista diz que é possível que a alimentação saudável seja, sim, prática. É claro que vamos investir tempo lavando folha por folha, maçã por maçã, mas depois é só abrir a geladeira e está tudo à mão, pronto para o consumo.

“Se conseguirmos ter uma alimentação saudável, composta por alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras; por grãos, como arroz e feijão; e complementada com carne fresca, ovos, peixes, isso vai contribuir para a nossa saúde física, porque ela não vai ser um ponto de desequilíbrio que poderia causar um excesso de peso ou ocorrência de alguma deficiência nutricional, como uma anemia, e também vai contribuir para o nosso bem-estar mental.”


12 dicas para preservar sua saúde física e mental

Corpo e mente estão conectados. Por isso, é possível conseguir benefícios em uma área ao fazer alterações na comida ou na qualidade dos pensamentos que temos, por exemplo

Maria Fernanda Rodrigues


Existe muita conexão, sim, entre a mente e o corpo, dizem especialistas. É por isso que conhecemos quem desconte a ansiedade na comida ou tente aliviar o estresse aumentando a ingestão de bebidas alcoólicas. Por outro lado, o que comemos também pode ter impacto na saúde mental. Quer um exemplo? Consumir verduras e legumes para garantir ao organismo uma quantidade adequada de fibras ajuda no melhor funcionamento do intestino, interferindo positivamente no humor.

Entrevistamos médicos especialistas em diferentes áreas, além de uma nutricionista, para reunir dicas úteis para cuidar do corpo e da mente neste período de quarentena. Confira, abaixo, as 12 principais indicações:

? Preste atenção ao pensamento que está escolhendo ter. “Todo mundo está sentindo alguma coisa, e isso vai repercutir na pele, no estômago, no coração”, diz a médica Márcia Senra, coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

?  Tente retomar atividades criativas que gostava de fazer e deixou de lado por algum motivo – e que podem ser feitas dentro de casa, é claro. Veja filmes alegres, leia um bom livro

?  Reserve um tempo diário para ficar em um ambiente tranquilo e colocar em práticas técnicas respiratórias e fazer meditação guiada antes de dormir, para relaxar cada área do corpo. “Toda atividade que você coloca mente e corpo funcionando de forma integrada é excelente”, afirma a médica Márcia Senra.

? Faça exercícios de forma moderada, escolhendo algo que dê prazer. Dance, faça tai-chi-chuan ou ioga, por exemplo.

? Hidrate a pele, principalmente agora que as temperaturas estão mais baixas e a água do banho, mais quente. Aproveite para fazer uma automassagem.

?  Tire o foco da comida. Tenha horários e rotina, mantenha as refeições principais – café da manhã, almoço e jantar – e estabeleça alguns horários para lanches saudáveis, como fruta ou uma barrinha de cereal, no meio da manhã e da tarde. “E, fora desses horários, se achou que está com fome, espere dar o horário de comer”, sugere o médico Madson Queiroz, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia.

?  Mude o foco quando perceber que a vontade de comer for uma compulsão, para compensar o estresse. “Respire fundo, vá ao banheiro, tome um banho. Depois de um tempo a pessoa vai ver se ela realmente precisava do doce”, diz Angélica. A vontade de um doce também pode ser sede. “Tome água e espere um tempo. Pode ser que melhore.” Saiba quando parar de comer: não espere estar totalmente saciado.

?  Evite alimentos com muita gordura, que têm digestão mais difícil. “Outra coisa que interfere no nosso bom humor é o funcionamento intestinal, e uma alimentação rica em frutas, legumes e verduras vai ajudar nisso também”, diz a nutricionista Angélica Marques de Pina Freitas. É melhor ingerir legumes congelados, se essa for a única opção, do que não comer nenhum tipo de legume. E, se o seu fraco for pães, preste atenção nos recheios.

?  Tente consumir frutas mais doces, como banana bem madura, mamão e manga, se a vontade de comer aquele docinho no final das refeições for irresistível. Se o desejo for de chocolate, opte por aqueles com menos gordura hidrogenada e açúcar, como o meio-amargo ou amargo.

?  Fique atento: se a vontade de ingerir açúcar vier sempre no fim do dia, pode ser um indício de que a alimentação está desequilibrada. “Pode ser que faltem vitaminas, minerais e carboidrato”, afirma Angélica Marques de Pina Freitas, presidente da Associação Paulista de Nutrição.

?  Beba muito líquido, de preferência água. Evite suco natural em excesso. É saudável, mas calórico. Não tome refrigerante, suco de caixinha. E reduza a bebida alcoólica ao mínimo possível. “Assim como algumas pessoas vão canalizar a ansiedade para a comida, que vira uma válvula de escape, outras podem fazer isso aumentando a ingestão de álcool. Está todo mundo em casa. O sábado passou a ser igual à segunda, à terça, quarta… Essa é uma preocupação extremamente relevante. Temos de controlar a ingestão de álcool”, afirma o endocrinologista Madson Queiroz.

?  Café, chá preto e chá mate ajudam a piorar a ansiedade. O ideal é tomar de 2 a 3 xícaras (pequenas) por dia.


PANDEMIA VIRA TEMA ÚNICO NAS SESSÕES DE TERAPIA

Busca por atendimento psicológico cresce, enquanto questões como solidão e dificuldades de convivência vêm à tona

Giovanna Wolf


Dúvidas sobre como conduzir o dia a dia em isolamento dentro de casa. Medo de ir parar no hospital. Receio de dar trabalho para os filhos. Preocupações com a solidão. Esses foram alguns dos assuntos que surgiram ao longo das sessões de terapia da psicóloga Dorli Kamkhagi, que coordena no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) um grupo de atendimento psicológico gratuito para idosos durante a pandemia.

Os pacientes de Dorli não são os únicos a lidar com essas questões: a pandemia invadiu as sessões de terapia como um todo. Psicólogos e psiquiatras em geral relatam que a pauta aparece de alguma forma em quase todos os atendimentos.

Isolamento domina sessões de grupo coordenado pela psicóloga Dorli KamkhagiACERVO PESSOAL

Nos últimos meses, a psicóloga Heloísa Caiuby tem atendido tanto pacientes antigos, de antes da pandemia, quanto novos. “No primeiro caso, percebo que há uma exacerbação das questões que eles já tinham, enquanto alguns pacientes novos só falam sobre as consequências da pandemia. Mas a covid-19 foi mencionada de alguma forma por todos eles nas sessões”, afirma Heloísa, que atende na startup de terapia online Vittude – o número de pacientes da plataforma saltou de 22 mil para 110 mil entre fevereiro e abril. “Há muita insegurança em relação ao futuro, medo de ser infectado, preocupação quase obsessiva com cuidados contra a doença e preocupação com as crianças dentro de casa, entre outros assuntos”, pontua a psicóloga.

Por mais que haja um grande tema recorrente, isso não significa que as sessões estão sendo parecidas. “Os sujeitos continuam singulares, complexos e lidando com as situações da maneira que lhes é própria e a partir de suas ferramentas subjetivas”, explica a psicanalista Fernanda de Sousa e Castro Noya Pinto, doutora pela USP. “Cada um de nós tem uma lente singular para enxergar e agir no mundo, tanto em relação à pandemia quanto ao isolamento, quiçá em relação à vida.” Além disso, claro, há o fato de as pessoas sofrerem o impacto da pandemia de forma diferente: a realidade de um médico na linha de frente de atendimento do coronavírus não é a mesma de alguém que está angustiado com o isolamento.

‘Cada um tem uma lente singular para enxergar e agir no mundo, tanto em relação à pandemia quanto ao isolamento e à vida’

Fernanda de Sousa e Castro Noya Pinto, psicanalista

Preocupação com a família. Diferentemente de muita gente, a aposentada Thereza de Jesus Vanetin Moreira, de 79 anos, não sente tanto medo de ser contaminada. “Me preocupo mais com a minha família. Tenho uma neta que está em Angola e não consegue voltar. Isso me tira o sono à noite”, diz ela, que fez sessões de terapia no atendimento do Instituto de Psiquiatria da USP. Outra grande questão que Thereza levou para a psicóloga foi o fato de ter mudado para a casa da filha durante a pandemia para não ficar totalmente sozinha, sem cuidados: “No começo me sentia como uma estranha aqui, gostava de ter meu espaço. Agora estou tentando me encontrar”, conta.

Sérgio Henrique de Oliveira, de 73 anos, outro idoso que foi atendido pelo programa da USP, sente falta da realidade pré-pandemia: “Adoro ir a restaurantes, cinemas e teatros, e também sou apaixonado por futebol. Estou sentindo muita falta dessas coisas nesse isolamento. Falei bastante na terapia de ausência de perspectiva, de não ter nem ideia de quando poderei ir a um show novamente”, desabafa. O grupo de atendimento da USP já atendeu 68 pessoas desde março, realizando cerca de três sessões com cada paciente por meio de chamadas de vídeo por WhatsApp.

Em evidência. Além das aflições próprias da pandemia, especialistas afirmam que o momento também tende a trazer à tona questões profundas de cada um. “Nós vivemos mergulhados na vida prática, como se o mundo tivesse uma engrenagem lógica. A pandemia mostra que isso é algo frágil, que não temos esse controle, e deixa à flor da pele grandes questões individuais, como insegurança e necessidade de amor”, diz Mario Eduardo Pereira, psiquiatra e psicanalista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

No caso do empresário Marcio Canavarro, de 45 anos, a pandemia fez com que aflorassem alguns problemas familiares. “Eram questões que estavam sendo empurradas para debaixo do tapete. Vejo que muitas vezes a situação do vírus acaba sendo um catalisador de preocupações antigas que a gente já tinha”, diz Canavarro, que está discutindo esse assunto em terapia, além de outras questões como a dificuldade em seu negócio na área de hotelaria.

‘Falei bastante na terapia de ausência de perspectiva, de não ter nem ideia de quando poderei ir a um show novamente’

Sérgio Henrique de Oliveira, aposentado

Para quem está isolado em casa, a convivência tem sido uma constante nas sessões, explica o psiquiatra Caio Antero Pinheiro, da rede Cia. da Consulta. “As relações dentro de casa acabam se intensificando e isso muitas vezes gera atritos. Fica mais difícil ignorar picuinhas do dia a dia”, diz. Foi por conta disso que Eduardo Carvalhaes, de 34 anos, resolveu começar a fazer terapia na quarentena: ele é casado há dois anos e nunca teve esse convívio contínuo com a mulher. “Sinto necessidade de ter um tempo meu, de entender as minhas emoções. Eu já entendia a importância de fazer terapia, mas com a pandemia eu tive de começar. Não teve jeito: ou eu fazia terapia ou meu casamento ia para o espaço”, conta o profissional de tecnologia da informação que está trabalhando em esquema de home office.

Com tantas questões, os profissionais de saúde mental estão sendo desafiados em seus trabalhos: “Estamos lidando com um mundo que está em rebuliço e precisamos ter resiliência para acolher a dor do outro. Os psicólogos também precisam descansar em alguns momentos para ter força para isso”, diz Dorli. Do outro lado da tela, os pacientes reconhecem o esforço: “A terapia neste momento foi uma experiência ótima. O que mais a gente precisa atualmente é falar e ser ouvido”, diz o idoso Sérgio Oliveira.


CASOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO CRESCEM, MAS É POSSÍVEL CONTORNAR PROBLEMAS

Efeito, segundo especialistas, é esperado; não se cobrar demais e procurar ajuda profissional são alguns caminhos

Giovanna Wolf


A saúde mental é um importante ponto de atenção em meio à pandemia – a ONU chegou a emitir um alerta neste mês, dizendo que a situação pode desencadear uma grande crise de problemas psicológicos, como ansiedade e depressão. No Brasil, estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) publicado no início de maio mostra que casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram no País, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.

Os números não são uma surpresa, dizem especialistas. “É um efeito esperado. Estamos expostos a altos níveis de ameaça e estresse, como o medo da infecção, o medo de perder pessoas, o receio de voltar contaminado do trabalho, o luto e os problemas econômicos e políticos”, afirma Felipe Corchs, psiquiatra do Programa de Transtornos de Ansiedade da Universidade de São Paulo (USP).

‘Estamos expostos a altos níveis de ameaça e estresse’

Felipe Corchs, psiquiatra do Programa de Transtornos de Ansiedade da USP

Além de ser uma consequência previsível, psicólogos e psiquiatras ouvidos pelo Estadão destacam que certos níveis de sofrimento, ansiedade e depressão são legítimos no momento que estamos vivendo. “Não é esperado que as pessoas atravessem toda essa fase de tensão, insegurança e ameaça sem serem afetadas de alguma maneira. Todo mundo sente um pouco de medo e abatimento”, diz Mario Eduardo Pereira, psiquiatra e psicanalista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Elisa Zaneratto Rosa, professora de psicologia social e saúde mental da PUC-SP, reforça: “Não nos faltam motivos para estarmos tristes. Estamos falando de uma mudança muito radical no mundo, que nos desconectou das bases sobre as quais estávamos estruturados. Também há uma angústia em relação ao futuro, porque estamos diante de uma situação que está fora do nosso controle”, afirma.

Sensações de ansiedade decorrentes da pandemia foram inevitáveis para Bárbara Braz, de 29 anos, que começou a fazer terapia durante a quarentena. Ela havia se mudado para a África do Sul em janeiro deste ano para empreender na área de turismo e teve de voltar às pressas para São Paulo no começo de abril. “O estresse começou com o processo de volta para o Brasil, conseguir vôo e tudo mais. Cheguei aqui cansada, com muita carga psicológica. Todos os meus planos mudaram e tive de entender como ia me manter financeiramente. Foi bem difícil organizar todas essas emoções ao mesmo tempo”, conta Bárbara, que sentiu o impacto da situação principalmente nas noites de sono, com dificuldade para dormir.

Bárbara teve de mudar planos: ‘Foi difícil organizar as emoções’, dizACERVO PESSOAL

Cuidados. Algumas medidas podem ajudar a lidar com a situação: “É importante tentar manter uma rotina e organizar um funcionamento de vida pessoal e profissional. Atividades físicas também são bem-vindas. Além disso, neste momento é essencial manter contato por meio dos recursos virtuais com as pessoas que são afetivamente significativas para você”, afirma Mario Eduardo Pereira, da Unicamp. O psiquiatra Felipe Corchs, da USP, também destaca a importância de se expor ao sol durante o dia, mesmo que seja por uma fresta de luz no apartamento.

A paulistana Bárbara tem praticado exercícios físicos em casa diariamente para aliviar a ansiedade. “Também busco sempre ter um momento para mim durante o dia, para ver um documentário de um assunto que me interessa, por exemplo”, diz ela, que agora dedica-se a atividades freelancer trabalhando de casa. Depois que começou a fazer terapia, Bárbara sente que está lidando melhor com a situação – ela faz sessões semanais na plataforma virtual de atendimento psicológico Zenklub. “O chá de camomila antes de dormir também tem ajudado.”

Em alguns casos, entretanto, é preciso um pouco mais de cuidado e a ajuda profissional torna-se essencial, seja psicológica ou médica. “Para identificar se o problema é mais sério e demanda busca por profissionais, costumamos usar o critério de funcionalidade. Estou em um estado de desânimo que não faço o que preciso e não como direito? Isso está me paralisando? Está provocando reflexos no trabalho, na família ou nas minhas relações sociais? Se sensações desse tipo forem contínuas, e não só algo pontual de um dia ou outro, podem ser sinais de alerta”, explica o psiquiatra Felipe Corchs, da USP.

‘Não se cobrar de estar bem é um primeiro passo para lidar com a situação’

Elisa Zaneratto Rosa, professora de psicologia social e saúde mental da PUC-SP

A estudante de Veterinária Juliana Carvalho recorreu a um psiquiatra para lidar com sintomas de ansiedade. “Procurei ajuda médica antes da quarentena, porque estava sentindo cansaço, sono excessivo e irritabilidade”, conta ela, que viu esses sintomas piorarem no isolamento. “Há o medo da contaminação, de perder o emprego, de não conseguir fazer as aulas a distância. Só piora.” Juliana buscou o psiquiatra na rede Cia. da Consulta, que registrou aumento de 244% nos atendimentos psiquiátricos entre março e abril.

Para a professora da PUC-SP Elisa Zaneratto Rosa, é essencial que neste momento as pessoas acolham todas essas angústias. “Não se cobrar de estar bem é um primeiro passo para lidar de um jeito bom com a situação. Vá identificando a intensidade desses sofrimentos e observando o quanto eles vão de alguma maneira te paralisando. Mantenha a calma, porque são sentimentos legítimos neste momento.”


‘SE OS ADULTOS CONSEGUIREM SEGURAR A ANSIEDADE, MOMENTO PODE SER BOM PARA AS CRIANÇAS’

Pediatra Daniel Becker fala sobre os dois lados da quarentena com filhos: estresse e fortalecimento de vínculos

Maria Fernanda Rodrigues


Meme retratando a quarentena com crianças é o que não falta, e a gente, que está nessa situação, ri de nervoso. Em um deles, uma sequência com 12 fotos de Carminha, a vilã de Adriana Esteves em Avenida Brasil, vai mostrando a evolução da expressão da personagem, e de muita mãe no isolamento: a satisfação de acordar e já ter o dia planejado, a leitura da primeira notícia, a vista da pia cheia de louça, uma peça de Lego no meio do caminho, a descoberta de comida pronta congelada no freezer, uma nova atividade que chega da escola, o filho que tosse, o chilique e a ameaça de ir embora, a sobrevivência de mais um dia.

Em outro, chamado Bingo da Culpa Materna, há itens como: Netflix ligada o dia inteiro, não fez nenhuma das atividades lúdicas propostas, já fingiu não escutar a criança chorando, a criança está com a mesma roupa há dois dias, pizza de jantar, brigadeiro de lanche, a criança foi dormir sem banho, deu o celular por 10 minutos de paz, a criança já está aprendendo a falar palavrão, deu pelo menos um grito por dia.

Atire a primeira pedra quem ainda não deu – ou teve vontade de dar – um grito nesta quarentena. Adultos e crianças estão saturados, e é natural que seja assim, diz o pediatra Daniel Becker. Isso tudo é ruim e desgastante, mas também pode ter um lado bom, ele completa.

“Os adultos estão demonstrando sintomas como ansiedade, depressão e medo, que explodem justamente entre si em conflitos, e também explodem com as crianças, em brigas. Elas absorvem essa ansiedade dos pais e o clima reinante e podem expressar sintomas comportamentais”, explica Becker. No entanto, não vão chegar e dizer: estou ansioso, estou com medo. A expressão de suas emoções é por meio de comportamentos inadequados para chamar a atenção e desafiar os pais. “Vão ficar nos solicitando o tempo todo, vão ter crise de birra, de irritabilidade, vão ficar hiperativos, rebeldes, indomáveis, ter insônia, vão comer de mais ou de menos”, diz.

Crianças absorvem ansiedade dos pais, diz o pediatra Daniel BeckerACERVO PESSOAL

Emoções são sempre válidas. Todo mundo está à flor da pele, mas é importante não perder de vista quem é o adulto da história. “Temos de nos lembrar disso e acolher essas emoções, sempre legitimando e validando o que elas estão sentindo dizendo: ‘você está com medo’, ‘entendo que você está chateado, ansioso, triste, zangado’”, afirma Becker. “Nomeie as emoções, deixe a criança entrar em contato com o que está sentindo e saber o nome desse sentimento. Tente controlar e repreender as ações erradas, não as emoções – elas são sempre válidas. Diga: Você está com raiva, mas não pode jogar o celular da mamãe no chão. Está zangado e triste, mas não pode bater no papai. Você não pode se jogar no chão, porque a mamãe fica zangada também.”

Essa é a parte difícil mas, como diz o pediatra, esse confinamento tem dois lados. “Em contraponto a esse convívio forçado, que é extremamente cansativo e doloroso porque não temos mais vidas individuais, não vemos mais nossos amigos, não conseguimos trabalhar direito, não temos a liberdade que tínhamos para ir ao cinema, sair de casa, andar na praia, no parque, e também em contraponto ao fato de estarmos cheios de ansiedade e de medo, para as crianças isso quer dizer que elas estão convivendo com os pais pela primeira vez em muito tempo, em muitos casos, e construindo memórias afetivas.”

Estão conversando, jogando, brincando, correndo, pulando, desenhando, dançando e cantando juntos, e estão sendo ouvidas. “As famílias estão desenvolvendo uma intimidade nunca antes vista”, comenta. E completa: “Se os adultos conseguirem segurar a sua ansiedade, para as crianças esse momento pode ser muito bom, porque a base de seu desenvolvimento é o vínculo com os pais. E essa construção de memórias afetivas pode ser muito fortalecedora de sua identidade, da psique e da alma delas”.

‘As famílias estão desenvolvendo uma intimidade nunca antes vista’

Daniel Becker, pediatra

Memórias. Haverá mal estar emocional, claro, mas quando sairmos lá na frente, as crianças terão lembranças fortes desse período, acredita Daniel Becker, dono de um perfil no Instagram seguido por mais de 120 mil pessoas. “Lembranças boas, que são essas memórias afetivas, e ruins. Vão lembrar de terem superado momentos difíceis, de quando os pais deram uma pirada, gritaram, ficaram irritados, choraram ou se sentiram fracos, de quando viram os pais vulneráveis na sua vulnerabilidade mais humana, e isso é bom.”

Bom, ele emenda, contanto que isso seja compensado por esse lado de conviver de forma alegre, feliz e brincante com seus pais. Se só houver memória traumática, isso vai gerar estresse tóxico e prejudicar o desenvolvimento da criança. “Se forem algumas memórias de momentos ruins entremeadas com a predominância de bons momentos, essas memórias ruins também acabam fortalecendo a criança porque ela se sente como alguém que superou junto com a sua família um momento difícil para toda a humanidade.”



ARTIGO
ILAN BRENMAN, ESCRITOR

‘A IMUNIDADE E A INFÂNCIA’

Pais devem ficar atentos se criança parar de brincar, afirma escritor Ilan BrenmanANA SHIOKAWA

A relação entre imunidade e aspectos emocionais já está mais que comprovada pela ciência, todos têm casos para relatar de pessoas que, ao entrar numa depressão ou num momento estressante, são acometidas por alguma doença, ou seja, quando o emocional está muito abalado se abre uma perigosa janela para as chamadas doenças oportunistas, aquelas que se estamos bem são debeladas com tranquilidade pelo nosso sistema imunológico. É evidente que existem outros motivos para a chamada imunidade baixa, mas o componente emocional é um fator muito importante nesse processo. Lembro de uma amiga psicóloga que trabalhava na ala cardiológica de um hospital e era responsável por avisar ao médico se o paciente a ser operado estava em condições emocionais favoráveis para a cirurgia. Caso observasse, por exemplo, uma depressão no paciente, a cirurgia, dependendo da gravidade, poderia ser adiada até uma melhora nas condições emocionais, ou seja, precisamos trabalhar a nossa mente para ajudar o nosso corpo.

Nessa época de quarentena precisamos mais do que nunca manter nossa imunidade em ordem, mas a tarefa não é fácil. O isolamento, a falta de trabalho e dinheiro, a ansiedade com o presente e o futuro, as tarefas de casa, a escola dos filhos dentro de casa! Mas nós somos adultos, podemos falar sobre isso, ou pelo menos deveríamos, falar sempre ajuda. E as crianças, como lidam com tudo isso?

As crianças, principalmente as menores, sentem tudo, absorvem tudo como esponjas e como tais ficam pesadas com esse clima de incerteza, ansiedade, desesperança, e isso pode mexer com a imunidade delas também. O que fazer? A linguagem da infância é o brincar e as narrativas, elas se comunicam por meio das brincadeiras e das histórias que gostam de ouvir e é nesse espaço que podemos e devemos fortalecê-las. Crianças que não estão brincando devem ser um chamariz para os pais. Não estou dizendo aqueles momentos normais, quando cansamos de brincar e ficamos quietos por um tempinho, mas se eles ficarem por um tempo prolongado não querendo mais brincar, isso é uma mensagem que estão nos dando, de que algo não vai bem. Brincar é sinal de saúde para a infância. E sobre as histórias? Elas são uma das ferramentas mais poderosas para fortalecer a mente infantil neste momento. Explico.

‘Histórias são uma das ferramentas mais poderosas para fortalecer a mente infantil neste momento’

Eu participei há muitos anos numa escola de uma reunião de pais conduzida por uma psicóloga em que um casal pediu para falar. Eles disseram que o mundo era muito cruel e que não queriam que a filha de 4 anos tivesse contato com essa realidade, por isso não liam nada para a menina que tivesse bruxas e afins, não viam filmes nem ouviam músicas que falassem da maldade humana ou do sofrimento inerente à própria vida. A filha teria tempo para conhecer esse lado da natureza humana e do sofrimento quando crescesse, por enquanto queriam protegê-la disso tudo.

Como pai, entendi perfeitamente esse instinto de proteção. Quem não quer proteger os filhos? Todos queremos. Mas como estudioso da infância, educador e escritor que vivenciou milhares de experiências pelo mundo todo com crianças e seus pais, sabia que essa forma de proteção desprotege a criança. A realidade sempre se impõe, impossível esconder das crianças o sofrimento decorrente dessa pandemia. Como uma menina que nunca vivenciou no mundo simbólico o que é sofrimento, o medo, a coragem, a morte, a incerteza, a luta pelo que você acredita, vai lidar com esse momento? Ela vai vivenciá-lo como se fosse tudo pela primeira vez, ou seja, com mais intensidade e sofrimento, com mais ansiedade e pesar. As outras crianças que já vivenciaram simbolicamente o que são esses sentimentos têm mais ferramentas emocionais para lidar com esse momento.

Os bons contos ensinam que quando estamos juntos combatemos melhor as batalhas das nossas vidas e, como disse uma autora que gosto muito, os contos são um mapa das emoções humanas, uma bússola a guiar a criança no mundo que se abre para ela, isso tudo recheado de muita aventura, suspense, humor… Brincar e histórias, receita fundamental para a saúde dos nossos filhos em tempos de isolamento.

Ilan Brenman é autor de livros para a infância. Entre suas obras estão O Que Cabe Num Livro?, Você Não Vem Brincar?, Telefone Sem Fio e Até as Princesas Soltam Pum


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Especialistas respondem a dúvidas sobre saúde física e mental

Conforme o período de quarentena se estende, surgem muitas questões: do momento de buscar ajuda profissional a alternativas para dormir melhor

MARCOS MÜLLER/ESTADÃO

Giovanna Wolf e Roberta Picinin


Da hora certa de procurar terapia à necessidade de combater a insônia. Passando por problemas  como queda de cabelo e pele ressecada, após o uso em excesso do álcool em gel. Neste período de isolamento social, estão surgindo muitas dúvidas sobre a saúde mental e a saúde do corpo, além dos reflexos de uma na outra. Reunimos algumas das mais frequentes e pedimos para especialistas em várias áreas – de psiquiatras a dermatologistas e ortopedistas – ajudarem a resolver. Confira, abaixo, as respostas. 


PERGUNTAS & RESPOSTAS



1Quero começar a fazer terapia agora. Como escolher um psicólogo ou um psiquiatra, uma vez que não poderei conhecê-lo pessoalmente?

Para Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, uma saída adequada neste momento é pedir indicação de pessoas próximas. “É um jeito antigo, mas funciona bem. Se for pesquisar na internet, é interessante buscar por profissionais ligados a instituições ou a universidades de renome”, orienta o psiquiatra.

2As terapias online devem continuar? Podem substituir as presenciais?

Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp, acredita que após a pandemia deve haver uma elasticidade maior entre o modelo virtual e o presencial. “Uma coisa não vai ocupar o lugar da outra. É provável que haja uma flexibilização entre os dois formatos, de acordo com a necessidade e com o tipo de terapia. Dependendo da linha de psicologia e do caso do paciente, a presença física é extremamente importante”, afirma Mary.

3E com idosos que não se adaptam à telemedicina, o que podem fazer?

A melhor forma de fazer o atendimento no caso dos idosos é usar a ferramenta com que eles estão mais familiarizados, diz Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp. “Pode ser até por telefone. O importante é não deixar de lado o tratamento”, afirma. Para oferecer atendimento psicológico para idosos, o Instituto de Psiquiatria da USP está usando a ferramenta de chamada de vídeo do WhatsApp. “Grande parte deles já usava o WhatsApp para mensagens. Acaba sendo um meio mais natural”, explica a psicóloga Dorli Kamkhagi, coordenadora desse programa da USP.

4Como sei se a quarentena está me afetando mais do que a outras pessoas?

Especialistas ouvidos pelo Estadão concordam que sentimentos como medo, insegurança, irritação e tristeza são esperados durante a pandemia. “O momento não é de tranquilidade, mas de saber como lidar com os nossos sintomas. Nossas obsessões, paranoias e impaciências, tudo vai tender a piorar. Por isso, a hora exige uma complacência muito maior com nossos próprios sintomas e, sobretudo, com o sintoma dos outros”, diz Marcelo Veras, psiquiatra da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Diante de alguns sinais, entretanto, recomenda-se buscar psicólogos ou psiquiatras. “Quando a alteração emocional começa a causar prejuízo nas atividades do dia a dia, na capacidade no trabalho e nos estudos, e isso se prolonga por algumas semanas, é importante fazer um acompanhamento com profissionais”, orienta Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp.

5Quais sinais as crianças dão de que é hora de buscar ajuda psicológica profissional?

De acordo com os especialistas, é importante observar as alterações de comportamento nas crianças, como dificuldade de concentração, deixar de gostar das coisas de que se gostava anteriormente, choro com mais frequência e tendência de se isolar e não socializar com a família.  “Os sinais podem ser os mais variados. As crianças e os jovens sentem muito o impacto da mudança de rotina que a quarentena impõe. Pelo momento de desenvolvimento que eles vivem, a socialização e os amigos são extremamente importantes”, afirma Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp.

6O que é melhor para a saúde mental de crianças e adolescentes: deixar que façam o que quiserem ou impor uma rotina agora?

Na visão de Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp, é preciso tentar manter uma rotina de crianças e adolescentes diante dessa situação atípica, principalmente porque essa organização está relacionada a marcadores de rotina como o horário da fome e do sono. “É importante, porém, dosar a manutenção da rotina. Deve-se tomar cuidado para que a rotina doméstica não fique apenas na cobrança e na pressão de cumprir exigências”, pontua a professora. Marcelo Veras, psiquiatra da UFBA, dá um conselho: “É uma boa ideia convidar as crianças para participar das tarefas domésticas junto com os pais, como decidir o menu do almoço, ajudar na arrumação e na cozinha. Para elas, será uma aventura e um reconhecimento de que são valorizadas”.

7Como faço para conseguir receita para remédios psiquiátricos agora que não posso sair de casa?

Em março, o Ministério da Saúde regulamentou o uso da telemedicina e passou a permitir o uso de atestado e receitas médicas a distância, por meio de certificação digital. “É um momento de adaptação dos profissionais e dos pacientes também. No serviço público, muitas receitas ainda estão sendo deixadas na recepção do hospital”, diz Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp.

8Quais cuidados extras devem ser tomados por pessoas que já têm algum transtorno mental?

Especialistas afirmam que neste momento é essencial que essas pessoas mantenham contato com o psicólogo e o médico. “Os cuidados recomendados pelos profissionais se tornam ainda mais importantes”, afirma Felipe Corchs, psiquiatra do Programa de Transtornos de Ansiedade da Universidade de São Paulo (USP). Além disso, Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp, lembra que não se deve alterar a medicação por conta própria: “É um erro parar a terapia ou os remédios quando se percebe uma melhora, e também intensificar sozinho a medicação. Qualquer mudança precisa ter o acompanhamento de especialistas”.

9Meditação funciona para todo mundo? Como começar?

“Como todo tipo de tratamento, tem gente que não se adapta à prática de meditação. Mas, para quem consegue, os resultados são consistentes”, diz Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp. Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp, completa: “A meditação é uma ferramenta que auxilia as pessoas a manterem certa calma física e psicológica. Ela trabalha no caminho oposto da ansiedade, trazendo um momento de paz e estabelecendo outro ritmo de respiração e de pensamento”. Para iniciantes, existem na internet aplicativos e vídeos com exercícios de meditação guiada.

10Fiz tudo “errado” nesses dias de quarentena: dormi até tarde, fiquei o dia todo de pijama, comi além da conta. É possível “consertar” a rotina a partir de agora? Como?

Para Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp, sempre há o caminho de volta. “Você pode começar por uma organização do cotidiano, avaliando as situações que tem vivido e fazendo novos planejamentos. Mas é importante não se exigir demais”, afirma. Na visão de Marcelo Veras, psiquiatra da Universidade Federal da Bahia (UFBA), como a quarentena está sendo longa, as pessoas passarão por estados diversos durante esse período: “Esse tudo ‘errado’ pode ser saudável, o isolamento nos permite ficar um pouco ao abrigo das exigências muitas vezes insuportáveis da opinião dos outros.  Essa exigência de normalidade costuma ser muito tirânica”, diz Veras.

11Há como combater a insônia?

“Algumas coisas ajudam a ter qualidade no sono, como evitar ficar na cama durante o dia e estabelecer horários para dormir e acordar”, orienta Felipe Corchs, psiquiatra do Programa de Transtornos de Ansiedade da USP. Além disso, especialistas explicam que é importante se expor ao sol durante o dia e evitar luzes fortes à noite. Também é importante deixar de usar o celular horas antes de dormir.

12Tenho acordado mais durante a noite. O que pode estar acontecendo?

É possível que o sono agitado seja consequência de estresse, tensão e preocupações. “Problemas no sono podem ser sintoma de um problema emocional, mas também ser uma causa. É importante estar atento às medidas que ajudam a melhorar a qualidade do sono”, diz Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador da Unifesp.

13Como evitar que a necessidade de fugir dos problemas se torne uma porta para o alcoolismo?

Para José Capalbo, superintendente médico do Hospital Nove de Julho, o autoconhecimento é chave para que evitar que, neste período de isolamento, a pessoa seja levada ao álcool ou a outras drogas. “O ideal é que cada um conheça suas fraquezas e busque medidas que se proteger. Contar com o aconselhamento de um profissional médico ou psicólogo pode ajudar”, afirma Capalbo. “Assim como conversar, mesmo que a distância, com amigos. Também é possível buscar atividades de relaxamento, que podem contribuir para aplacar a ansiedade. O ponto fundamental em relação a esses vícios é a prevenção.”

14Cuidar da beleza pode ajudar a melhorar minha autoestima neste momento?

Especialistas ouvidos pelo Estadão concordam que sim. “A autoestima impacta na imagem que a pessoa tem sobre si mesma. O mínimo de cuidado de se embelezar e se arrumar é interessante, até para que a pessoa consiga se sentir bem consigo mesma”, diz Mary Okamoto, professora de psicologia da Unesp. Marcelo Veras, psiquiatra da Universidade Federal da Bahia (UFBA), reforça essa importância: “O estilo é um modo de definir a existência para si, mesmo levando em conta o olhar do outro”.

15Minhas mãos estão ressecadas de tanto usar álcool em gel? O que fazer?

Segundo Sumire Sakabe, infectologista do Hospital Nove de Julho, lavar as mãos com frequência é uma medida de higiene eficaz e fundamental desde sempre, mas ainda mais  essencial em tempos de pandemia. Entretanto, esse ato pode deixar a pele ressecada. A dermatologista Silvana Coghi, do Hospital Camilo, indica que nesses casos a pessoa faça uma boa hidratação. “Se você usa o álcool gel 70% com muita frequência, quando não há disponibilidade para a lavagem das mãos, associe esse uso com o creme hidratante. Passe o álcool e hidrate as mãos várias vezes ao dia.”

16Meu cabelo está caindo mais. Pode ser a alimentação errada?

Especialistas dizem que sim. “A queda de cabelo pode ter várias causas, como  alimentação inadequada, por exemplo, com falta de vitaminas e proteínas. Há também causas hormonais e medicamentosas, além de ser provocada por doenças crônicas, no caso de hipotireoidismo e anemias, entre outras”, afirma Silvana Lessi Coghi, dermatologista do São Camilo. Ela recomenda que se faça uma avaliação dermatológica para saber a conduta mais adequada para o tratamento.

17Não é possível evitar o pronto-socorro. Que precauções devo tomar?

“É muito importante saber que, mesmo em época de pandemia, as outras doenças continuam acontecendo e algumas precisam de tratamento urgente”, explica José Capalbo, superintendente médico do Hospital Nove de Julho. “Para que isso seja feito com segurança, os hospitais de maneira geral implantaram fluxos de atendimento separados para pacientes com suspeita da covid-19 e pessoas com outras doenças. Os fluxos não se misturam, assim como os profissionais que prestam atendimento.” Ele lembra que, ainda que seja feita essa triagem, é importante usar a máscara corretamente durante o período em que a pessoa estiver no hospital, assim como higienizar as mãos com água e sabão ou álcool em gel.

18Como devo proceder após acidentes em casa?

Os acidentes domésticos, mesmo que não demonstrem gravidade, devem ser avaliados por um profissional, de acordo com José Capalbo, superintendente médico do Hospital Nove de Julho. Professor de Ortopedia da USP, Mateus Saito complementa: “Se for algo leve, a pessoa pode fazer um repouso, colocar gelo ou tomar um analgésico simples. E observar o que acontece”, diz. “Se não estiver melhorando, a recomendação é procurar ajuda. Buscar clínicas médicas, em vez de recorrer a um hospital, pode ser uma alternativa nessas horas.”

19Houve mais cancelamentos de consultas com a pandemia?

Ainda que os pacientes desmarquem as consultas, é importante reforçar que,  mesmo em épocas de epidemias ou pandemias, não se deve abandonar a rotina de exames e consultas médicas, principalmente para os que necessitam de tratamento ou são pacientes crônicos. “No acompanhamento de um paciente, o médico estabelece um cronograma que gera segurança para seu controle. Abandonar isso à revelia do médico não é adequado”, diz José Capalbo, do Nove de Julho.

20A telemedicina é uma realidade que veio para ficar?

A telemedicina é uma opção neste momento. Mas ela tem limitações e não é eficaz para todos os casos, dizem especialistas. “Se for preciso examinar o paciente, a telemedicina se torna inviável, ela não serve para essa finalidade, mas sim para atualização de receitas médicas. Ela não substitui a consulta habitual, mas é uma realidade para as necessidades atuais”, diz Marco Russo, clínico geral do Tribunal de Justiça Militarca MJ.

21Comecei a espirrar. Como sei se é alergia, sintoma de gripe ou mesmo de coronavírus?

As pessoas espirram por vários motivos e, às vezes, é muito fácil identificar quando se trata apenas de uma irritação, de acordo com a infectologista Sumire Sakabe. Quem convive com a rinite, por exemplo, consegue ter menos problema para perceber a diferença, pois sabe quando está em crise. Em outros casos, porém, a dúvida pode mesmo existir. “O espirro, como sintoma único, tem origem difícil de definir e pode ser apenas uma reação alérgica”, explica a alergologista Cristina Abud, do Hospital São Camilo. “Mas se vier acompanhado de dor no corpo, febre, dores de garganta e mal-estar, podemos, sim, pensar nas síndromes gripais, como influenza e mesmo coronavírus”, complementa Cristina.

22Venho sentindo dor nos ombros e na lombar. O que posso fazer?

De acordo com Mateus Saito, professor de ortopedia da USP, a falta de ergonomia durante o trabalho em esquema de home office, as atividades domésticas feitas de forma inadequada e alguns acidentes domésticos são a origem das dores lombares em grande parte das pessoas nesta quarentena. Ortopedista do grupo de coluna no Hospital das Clínicas, Alexandre Fogaça complementa: “O mais indicado para quem está trabalhando é, na medida do possível, ter uma cadeira para se sentar dobrando o quadril em 90°. Já o teclado do computador deve ficar em uma mesa, na altura dos cotovelos da pessoa”. Ainda segundo Fogaça, também é importante fazer pausas a cada 1h30 ou 2 horas trabalhadas. “Se alongar e ter horários para começar, terminar e descansar melhoram a rotina”, diz o ortopedista. “Outro ponto pode ser a ansiedade. Pensar positivo neste momento ajuda a aliviar as tensões musculares.”

23Sei que não estou grávida, mas minha menstruação não está normal. Pode ser efeito da mudança na rotina?

Sim, as alterações de rotina podem provocar essas irregularidades, seja causando atraso ou adiantamento do ciclo, de acordo com especialistas. “Mensalmente, há uma ‘dança’ de hormônios, que são interligados e cíclicos”, explica Fernando Asanuma, ginecologista do Hospital Nove de Julho. “Além da mudança de rotina, o estresse e a ansiedade decorrentes da pandemia podem alterar a menstruação.” Segundo o médico, sempre podem haver outros motivos para a irregularidade. Mas, descartando a gravidez, uma das principais hipóteses que podem ser levantadas inicialmente para um atraso no ciclo é de fato a alteração vivida neste período de isolamento.


FONTES

Alexandre Fogaça (ortopedista do grupo de coluna do HC), Cristina Abud (alergologista do São Camilo), Elson Asevedo (psiquiatra e pesquisador da Unifesp), Felipe Corchs (psiquiatra do Programa de Transtornos de Ansiedade da USP), Fernando Asanuma (ginecologista do Hospital Nove de Julho), José Capalbo (superintendente médico do Hospital Nove de Julho),  Marcelo Veras, psiquiatra da UFBA), Marco Russo (clínico geral do Tribunal de Justiça Militar), Mary Okamoto (professora de psicologia da Unesp), Mateus Saito (professor de Ortopedia de Medicina da USP), Silvana Lessi Coghi (dermatologista do São Camilo) e Sumire Sakabe (Infectologista do Hospital Nove de Julho)


EXPEDIENTE

Reportagem Giovanna Wolf, Maria Fernanda Rodrigues e Roberta Picinin (estagiária sob supervisão de Carla Miranda) / Editora de Conteúdos Premium Ana Carolina Sacoman / Editora de Inovação Carla Miranda / Editor executivo multimídia Fabio Sales / Editora de infografia multimídia Regina Elisabeth Silva / Editores assistentes multimídia Adriano Araujo, Carlos Marin, Glauco Lara e William Marioto / Ilustrador Marcos Müller / Designer multimídia Dennis Fidalgo / Coordenador de Produção Multimídia Everton Oliveira