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Triagens para Projetos de Pesquisa

Ivan Mário Braun, do IPq, fala sobre a alta prevalência de jovens que experimentam cigarro. Confira na Folha/UOL

Grupo cresceu em meio a campanhas antitabagistas, mas opção por fumar é influenciada por questões sociais

SÃO PAULO

João Vitor Bitetti, 18, começou a fumar aos 14 anos por influência dos amigos na escola. “Eu sempre soube que fazia mal, mas eu era meio rebelde”, diz.

Com o tempo, o designer de roupas passou a se sentir sozinho, o que intensificou o hábito. “Minha saúde a longo prazo não era uma preocupação. Pensava que se resolvesse a minha solidão seria o suficiente.”

Hoje, João entende que o prazer imediato e as oportunidades de socialização que o hábito carrega pesam mais do que os prejuízos à saúde. O jovem considera que, apesar das campanhas antitabagistas, ainda existe uma imagem positiva ligada ao cigarro, o que acaba causando interesse.

Jovem fumando
João Victor, 18, começou a fumar na adolescência – Danilo Verpa/Folhapress

 

João está dentre os 6,4% de sua faixa etária (18 a 24 anos) que fumam no Brasil, segundo a Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) de 2021. O número vem caindo nos últimos anos e representa a metade do observado em 2006, primeiro ano da pesquisa, quando o grupo totalizava 12%.

Segundo especialistas, a redução do número de jovens fumantes é notável. Contudo, o contato com o tabaco e nicotina em outras formas, como o cigarro eletrônico, além de uma cultura permissiva em relação ao tabagismo, ainda mantém o hábito presente entre adolescentes e jovens adultos.

“A imagem social do cigarro mudou muito nos últimos anos, muito desse glamour foi transferido para outras drogas, como a maconha”, pontua Braun. O cigarro, porém, ainda promove alta permeabilidade social, e as reinvenções da indústria em relação à forma de consumo mantêm muitos jovens interessados no tabaco.

“Ter informação não necessariamente impede a experimentação”, indica Braun. “O ser humano é pouco propenso a deixar de fazer coisas por consequências que poderão vir no futuro.”

Vitor Coutinho, 23, não achava que iria ficar viciado. O alívio rápido do estresse promovido pelo hábito e o convívio social foram atrativos. “Eu nunca tive uma imagem boa do cigarro, sempre fui desincentivado. Mas é como cair em tentação”, diz.

O que começou como um trago eventual em encontros com amigos se tornou um vício difícil de abandonar.

“Eu acho que as campanhas antitabagistas funcionam e cada vez menos jovens gostam do cigarro, mas ainda existe essa imagem cultural que influencia”, pondera.

Segundo Paulo Corrêa, coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, experimentar o cigarro durante a adolescência é preocupante porque quanto mais cedo o jovem começa a fumar, mais difícil é parar.

O hábito também é prejudicial na juventude porque, além de ser uma droga com alto potencial aditivo, influencia no desenvolvimento neurológico.

“O jovem tem um certo imediatismo na obtenção do prazer e hoje tem contato com a nicotina em diversas formas”, afirma.

Para o especialista, é preciso modificar a veiculação das campanhas antitabagistas para atingir o público-alvo com maior precisão. Exemplos são a utilização das redes sociais e o investimento em projetos que envolvam escolas.

Além disso, estratégias que visam o aumento de preço do cigarro são vistas como positivas, uma vez que podem causar diminuição do consumo.

“Também existem poucos locais especializados no tratamento do tabagismo em adolescentes”, afirma Corrêa, que considera importante iniciativas que foquem nos impactos do hábito entre os mais jovens.