Pacientes com epilepsia têm maior risco de desenvolver depressão que a população geral. Portanto, o objetivo principal do estudo foi o de tentar identificar fatores genéticos que possam predispor pessoas com epilepsia a desenvolver depressão, e identificar precocemente e acompanhar grupos de risco para essa condição.
A pesquisa foi desenvolvida no Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP por Sílvia de Vincentiis, sob a orientação da Profa. Dra. Kette Dualibi Ramos Valente e supervisão dos profs do Departamento de Psiquiatria da FMUSP (Prof.Dr. Wagner Farid Gattaz e Dr. Daniel Kerr, LIM 27; Prof.Dr. Geraldo Busatto, LIM 21; Prof. Dr. Ricardo Alberto Moreno e Dr. Fernando Fernandes, GRUDA), e em parceria com o Instituto de Neurologia de Goiânia (Dr. Hélio van der Linden Jr). O objetivo principal do estudo foi o de tentar identificar fatores genéticos que possam predispor pessoas com epilepsia a desenvolver depressão, e identificar precocemente e acompanhar grupos de risco para essa condição.
Realizada com 119 pacientes com epilepsia do lobo temporal causada por esclerose hipocampal, 143 pacientes com depressão unipolar e 113 voluntários saudáveis, sem história familiar para epilepsia ou transtornos psiquiátricos. Comparamos pacientes com um tipo específico de epilepsia (epilepsia do lobo temporal causada por esclerose hipocampal) com e sem depressão a voluntários saudáveis e a pessoas com depressão. Pesquisamos se variantes genéticas relacionadas à transmissão serotoninérgica poderiam estar envolvidas na origem de ambas as condições em um mesmo indivíduo.
A Epilepsia
A epilepsia foi conceitualmente definida em 2005 como um distúrbio do cérebro caracterizado pela predisposição persistente do cérebro em gerar crises epilépticas. Uma crise epiléptica é a ocorrência transitória de sinais e/ou sintomas decorrentes da atividade anormal excessiva ou síncrona no cérebro.
Em 2014 a Liga Internacional Contra a Epilepsia (International League Against Epilepsy – ILAE) alterou a definição clínica prática de epilepsia. Assim sendo, a epilepsia deve ser considerada uma doença do cérebro caracterizada por qualquer uma das seguintes condições:
(1) Pelo menos duas crises epilépticas não provocadas (ou reflexas) ocorrendo em um intervalo superior a 24h;
(2) uma crise epiléptica não provocada (ou reflexa) e a probabilidade de ocorrência de crises epilépticas similar ao risco de recorrência em geral (de pelo menos 60%) após duas crises epilépticas não provocadas, ocorrendo nos próximos 10 anos;
(3) diagnóstico de uma síndrome epiléptica.
Epilepsia do Lobo Temporal
A epilepsia do lobo temporal causada por esclerose hipocampal é a causa mais comum de epilepsia focal farmacorresistente nos adultos, em muitos casos tendo como indicação o tratamento cirúrgico. Pessoas com epilepsia têm maior risco de desenvolver depressão que a população geral, particularmente nos pacientes farmacorresistentes.
Os mecanismos fisiopatológicos em comum entre a epilepsia do lobo temporal e a depressão inclui anormalidades no sistema serotoninérgico. A serotonina desempenha uma função fisiológica relevante como um neurotransmissor. A biodisponibilidade da serotonina no cérebro depende de diversos fatores, inclusive genéticos.
Os resultados
Não encontramos variantes genéticas relacionadas ao desenvolvimento de epilepsia e depressão em conjunto. Porém, algumas variantes genéticas relacionadas à transmissão serotoninérgica tiveram influência sobre algumas características clínicas da epilepsia.
Os principais resultados da pesquisa confirmam que pode haver influência de variantes genéticas relacionadas à transmissão serotoninérgica na epilepsia, porém mais estudos são necessários para estabelecer uma relação entre essas variantes genéticas na susceptibilidade ao desenvolvimento de depressão nesse grupo de pacientes.
Estes trabalhos já foram publicados em revistas científicas (link)
- Genetic polymorphisms of the 5HT receptors are not related with depression in temporal lobe epilepsy caused by hippocampal sclerosis.
Vincentiis S, Alcantara J, Rzezak P, S Kerr D, F Gattaz W, van der Linden H Jr, Dos Santos B, Melo-Souza SE, Arruda F, Ragazzo P, Chaim-Avancini T, H Serpa M, Fernandes F, Moreno RA, Busatto G, Alessi R, Demarque R, D Valente K.
Epilepsy Behav. 2018 Jun;83:181-185. doi: 10.1016/j.yebeh.2018.03.032.
- Higher transcription alleles of the MAOA-uVNTR polymorphism are associated with higher seizure frequency in temporal lobe epilepsy.
Vincentiis S, Alcântara J, Rzezak P, Kerr D, Dos Santos B, Alessi R, van der Linden H, Arruda F, Chaim-Avancini T, Serpa M, Busatto G, Gattaz W, Demarque R, Valente KD.
Epilepsy Res. 2019 Jan;149:26-29. doi: 10.1016/j.eplepsyres.2018.11.003.