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Participação de Liliana Seger, psicóloga do Programa Transtorno Explosivo Intermitente/Tei do Ambulatório dos Transtornos dos Impulsos/Pro-Amiti do IPq, no  Programa Fantástico.

Por Fantástico

 

Especialistas tentam explicar por que agressões por motivos banais têm se tornado frequentes

Especialistas tentam explicar por que agressões por motivos banais têm se tornado frequentes

As agressões estão aumentando ou agora estão sendo gravadas? Não existe uma resposta certa, por isso o Fantástico convidou especialistas de áreas diferentes – como história, psicologia e segurança pública – para refletir quais transformações sociais e tecnológicas podem estar contribuindo para tanta violência por motivos banais.

“Uma coisa é eu sentir raiva, outra é quebrar a sua câmera porque senti raiva”, diz a psicóloga Liliana Seger.

 

Existe um transtorno que faz uma pessoa ter ataques de fúria com muita frequência: chama-se transtorno explosivo intermitente. Mas tem tratamento, e só uma pequena parte dos brasileiros sofre com isso: cerca de 3,1% da população, segundo o Instituto de Psiquiatria da USP.

“Quando a raiva é expressa de forma frequente, duas a três vezes por semana, a gente já pode começar a pensar, sim, em um transtorno psiquiátrico”, explica Liliana.

 

Brasileiro cordial

Mas e aquela fama do “brasileiro cordial”? Um conceito que na verdade nunca significou que somos realmente tolerantes com uns com os outros, apesar de ter sido essa a ideia que se espalhou no tempo.

“Essa carapaça do brasileiro e da brasileira tão simpáticos e cordiais, não resiste a uma briga no trânsito”, afirma a historiadora Lilia Schwarcz, que escreveu quase 40 livros, entre eles, “Sobre o autoritarismo brasileiro.”

Para ela, o brasileiro confunde violência com autoridade.

“O fato de termos sido uma colônia, o fato de nós termos sido o último país a abolir a escravidão… Tudo isso está inscrito no presente”.

A pesquisadora Ariadne Natal, do Peace Research Institute Frankfurt, concorda:

“A gente tem uma sociedade que tem um histórico violento, na qual a violência é um tipo de recurso a que se recorre para resolver conflitos”, diz ela. “A gente confunde a violência com autoridade”.

 

Ariadne também vê no machismo uma das causas desse tipo de violência.

“Tem uma percepção de masculinidade aí também. A violência não é vista como algo negativo nesse exercício de masculinidade, muito pelo contrário”, diz

“Ele parte do suposto de que todos os problemas são causados pela injustiça alheia. É sempre o contrário: essa pessoa não é agressiva, ela está sendo agredida pelo mundo, portanto tem todo o direito de reagir. Não tem!”, enfatiza Lilia Schwarcz.

Com a internet, a vida tem sido cada vez mais instantânea. Quase tudo pode ser resolvido em poucos segundos: a comida, a mensagem, ninguém quer “perder tempo”. O imediatismo também pode ser um pilar dessa raiva?

“Pode, sim. O imediatismo está ligado à ansiedade. Então eu quero que você fale comigo agora, que você me atenda agora, que você não erre a minha comida, que você não entregue uma pizza errada. Esse imediatismo gera, sim, muita raiva”, diz Liliana.

O caminho para desconstruir essa avalanche de ódio e violência, acredita Lilia Schwarcz, é lidarmos com a situação.

“Vamos combinar que a questão do nosso autoritarismo é um trauma brasileiro. Se evitarmos falar, se tentarmos silenciar, o trauma retorna. Então a única maneira de nós lidarmos com essa nossa intolerância será enfrentá-la, e não dizer o contrário, que nós somos um país harmonioso. Por vezes somos, mas muitas vezes não somos. Nós podemos mudar esse destino e tomar a sociedade brasileira com a alegria e a potência que ela pode ter”.