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Dr. Alexandre Andrade Loch, do IPq,  fala  sobre  Diretrizes para pensamentos e comportamentos suicidas no Brasil. Confira a matéria no site Medscape.

Diretrizes para pensamentos e comportamentos suicidas: da Austrália para o Brasil

Teresa Santos (colaborou Dra. Ilana Polistchuck)

NOTIFICAÇÃO

7 de setembro de 2022

Em uma tendência contrária à observada no mundo, as taxas de suicídio no Brasil e na América Latina vêm aumentando nas últimas duas décadas. [1] Falar de suicídio ainda é tabu no Brasil, e especialistas alertam que o estigma contribui para o aumento de um evento que, na verdade, pode ser prevenido.

Na Austrália, a população leiga dispõe de um recurso nesses casos, as diretrizes do Mental Health First Aid. Em junho, essas recomendações ganharam uma versão em português, fruto de uma cooperação entre australianos e brasileiros, que foi culturalmente adaptada para o Brasil e publicada no periódico BMC Psychiatry.  [2]

A versão brasileira do documento foi intitulada “Diretrizes para pensamentos e comportamentos suicidas no Brasil”, e pode ser acessada aqui.

Iniciado em 2000, o Mental Health First Aid (MHFA) desenvolveu um treinamento para a população geral auxiliar pessoas em crise suicida. [3] Segundo o Dr. Alexandre Andrade Loch, médico psiquiatra afiliado ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), a iniciativa é voltada para o público leigo e visa a devida identificação, abordagem e encaminhamento de pessoas em risco de suicídio.

“É comum que, diante desta delicada situação [alguém manifestando o desejo de tirar a própria vida], as pessoas não saibam o que fazer, o que falar para a pessoa, como abordá-la. Muitas vezes, até o profissional de saúde mental encontra dificuldade no manejo inicial destes casos”, explicou o especialista em entrevista ao Medscape, complementando que as diretrizes foram elaboradas com o intuito de oferecer um parâmetro para o reconhecimento do risco e a adoção da melhor conduta possível.

Para adaptar a diretriz para o Brasil, a equipe do HCFMUSP, do Instituto Nacional de Biomarcadores em Neuropsiquiatria (INBioN) e da University of Melbourne, na Austrália, adotaram o método Delphi, um recurso que facilita a conversão de opiniões de diversas fontes em consensos.

Na primeira etapa, as diretrizes foram traduzidas do inglês australiano para o português brasileiro. Na sequência, o documento foi avaliado por um painel formado por 60 brasileiros: 40 profissionais de saúde, 14 representantes voluntários de organizações não governamentais voltadas para a prevenção ao suicídio e seis pessoas com história pessoal de tentativa de suicídio.

Dos 161 itens originalmente incluídos nas diretrizes australianas, 123 foram endossados pelo grupo brasileiro, que excluiu 21 itens e elaborou 22 novos tópicos. Assim, a versão em português foi composta de 145 itens organizados em 10 seções: (1) identificação do risco de suicídio; (2) avaliação da gravidade do risco de suicídio; (3) assistência inicial; (4) conversando com a pessoa suicida; (5) contratos de não suicídio (planejamento de segurança); (6) garantia da segurança; (7) passando o tempo durante a crise; (8) o que o socorrista deve saber; (9) confidencialidade e (10) itens específicos para adolescentes.

Segundo o Dr. Alexandre, isso ilustra como o suicídio ainda é tabu no Brasil. “Enquanto em outros países o assunto já é tratado de maneira mais aberta, no Brasil, ainda há uma certa relutância em se falar sobre suicídio, sobre saúde mental. Esse tipo de preconceito dificulta a abordagem e o tratamento de doenças mentais. O estigma é uma barreira importante para o reconhecimento e o tratamento das doenças mentais.  E o resultado é o aumento das taxas de suicídio”, destacou.

Em relação aos itens incluídos na versão brasileira, o painel redator viu a necessidade de adicionar várias questões relacionadas aos amigos e familiares dos pacientes, algo que não surpreendeu os autores. “Entendemos que a nossa cultura, felizmente, é muito mais coletiva – por assim dizer – do que as demais. É comum vermos brasileiros que vão para o exterior e relatam ‘frieza’ no outro país, pois na verdade as pessoas são menos conectadas aos seus amigos e familiares. A conexão é diferente. O brasileiro tem o coração aberto, é muito mais receptivo e amistoso. Em outras culturas, as pessoas tendem a ser mais individualistas. Por isso, diante do risco de suicídio, buscamos envolver a família e os amigos, pois sabemos que muitas vezes são pessoas com as quais podemos contar”, ressaltou o psiquiatra.

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https://portugues.medscape.com/verartigo/6508512?reg=1