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Daniel Martins de Barros e Mariângela Savoya, ambos do IPq, falam sobre dicas de como controlar  a ansiedade, em matéria do Estadão.

Como controlar a ansiedade com a eleição Lula x Bolsonaro? Veja dicas para baixar o nervosismo

Foto: Dida Sampaio / Estadão

Por Caio Possati

Respirar de forma lenta e profunda, diminuir uso de redes sociais e praticar exercícios físicos podem ajudar – e, claro, não brigar com os eleitores do candidato adversário

As indefinições das disputas eleitorais, que levam o Brasil de volta às urnas neste domingo, 30, para eleger 12 governadores e o próximo presidente da República (Lula ou Bolsonaro), têm provocado tensão e ansiedade entre os eleitores no País. E, para aliviar as emoções à flor da pele, especialistas ouvidos pelo Estadão alertam que técnicas de respiração, prática de exercícios físicos e até desintoxicação das redes sociais podem ajudar a trazer tranquilidade e baixar os níveis de ansiedade tomam parte do eleitorado mais engajado.

Marcada por uma alta polarização, pelo uso excessivo dos meios digitais, pela produção massiva de informações e também por episódios de violência entre apoiadores de candidatos, a corrida eleitoral deste ano acirrou conflitos e despertou nas pessoas sentimentos que flutuam da raiva ao medo.

Daniel Martins de Barros, psiquiatra e colunista do Estadão, explica que para se acalmar é necessário praticar a autorregulação emocional. Ou seja, conseguir controlar as próprias emoções. Para isso, segundo Barros, existem duas estratégias principais: uma é focar no problema que dispara o sentimento de ansiedade, e a outra é focar na emoção que está sendo manifestada.

A corrida eleitoral deste ano acirrou conflitos e despertou nas pessoas sentimentos que flutuam da raiva ao medo
A corrida eleitoral deste ano acirrou conflitos e despertou nas pessoas sentimentos que flutuam da raiva ao medo Foto: Wilton Junior/Estadão

 

“Embora você não seja possível resolver o problema do resultado da eleição, a pessoa pode estar ansiosa também com o almoço em família, ou com a relação com o chefe que não compartilha da mesma opinião política. Sobre esses problemas, é possível atuar para diminuir a ansiedade”, afirma o psiquiatra, que também é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Então, a primeira estratégia é atuar sobre o problema que causa esse sentimento”, diz.

 

Já em relação ao foco na emoção, Daniel Martins de Barros orienta que há técnicas que podem ser adotadas para diminuir a tensão, como exercícios de relaxamento, meditação e também a distração com assuntos que não remetem às eleições. Mas, a mais fácil de se praticar, segundo o psiquiatra, é realizar uma respiração profunda e lenta. “Tudo isso é útil para baixar os níveis de ansiedade”, afirma.

“De forma geral, a estratégia mais fácil de se aplicar, e que pode ser implementada em qualquer lugar, é tomar consciência da respiração e respirar profunda e lentamente. Quando a gente faz isso, nosso cérebro entende que estamos tranquilos e, assim, a gente acaba se acalmando”, recomenda Barros.

As sugestões apresentadas por ele são reforçadas por Mariângela Savoya, psicóloga do Programa Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq). Ela entende que essa ansiedade generalizada está sendo provocada por uma disputa altamente polarizada que, além de provocar raiva e frustração, leva as pessoas a terem apenas contato com uma visão dos fatos. “Isso provoca nas pessoas o sentimento de que, a depender do resultado, será uma catástrofe”, afirma.

De acordo com a psicóloga, as estratégias que podem ser feitas para diminuir o estresse e a ansiedade momentânea são: exercícios físicos para espairecer e gastar energia; e técnicas de relaxamento e meditação, que ajudam a viver o momento presente e não se preocupar por antecedência com episódios futuros que não se podem controlar.

O que fazer diante de uma crise de ansiedade?

No caso da ansiedade ficar mais aflorada e mais difícil de ser controlada, os especialistas alertam para outras maneiras de manejar esse sentimento. Para cuidar “dessa onda de ansiedade”, como descreve o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o caminho é tentar identificar o motivo que disparou esse sentimento. “O gatilho pode ser uma notícia, por exemplo. Então, é necessário atuar sobre esse gatilho.”

Mariângela tranquiliza: “As crises maiores passam. Não duram mais do que 15 minutos. É sentar e esperar passar”, diz. Mas, a especialista explica também que é importante aceitar que a ansiedade veio, e que uma estratégia que pode ser eficaz nesses momentos é olhar para fora e não focar nos sentimentos internos.

“Uma técnica que a gente faz é de distração. Por exemplo, há uma estante na sua frente, comece a contar quantos livros há na estante. Com isso, você tira o olhar para as sensações corporais e passa a olhar para fora”, diz a psicóloga. “Prestar atenção no que está sentindo, como focar na taquicardia, só aumenta a ansiedade”, acrescenta.

Além da taquicardia, isto é, coração batendo de forma rápida, como mencionou Mariângela, outros sintomas que podem ser observados no momento da ansiedade são o pensamento acelerado, a respiração ofegante e também a musculatura tensa.

Quando a ansiedade atinge níveis elevados a ponto da pessoa não conseguir minimizar os sintomas com as técnicas sugeridas, Daniel Martins de Barros alerta que isso é um sinal de que a pessoa deve buscar ajuda profissional. “Quando o paciente deixa de controlar a ansiedade e ansiedade passa a controlar a pessoa, então ela precisa procurar ajuda profissional, seja de psicólogo ou psiquiatra”, afirma.

No caso de pessoas que têm o diagnóstico clínico de ansiedade fechado e tomam remédios ansiolíticos, ambos os especialistas afirmam que um possível aumento de dose da medicação deve ser sempre discutido com o profissional do paciente e que a ingestão por conta própria não deve ser praticada.

Como as redes sociais afetam a saúde mental?

Na tentativa de se sentirem amparados e menos sozinhos, os mais ansiosos com o futuro do País têm buscado refúgio nas redes sociais e nos aplicativos de conversa. Porém, tratando-se de uma disputa eleitoral altamente polarizada e imprevisível, o uso frequente e excessivo dos meios digitais pode também ser o disparador dessa ansiedade.

Para o psiquiatra Daniel Martins de Barros, o nível de imersão nas redes vai depender de cada pessoa e a capacidade de cada um entender o quanto isso lhe faz bem ou mal. “É como um padrão de consumo. É individualizado. O quanto deve ser consumido e o quanto checar as redes sociais vai depender de cada um e o quanto a pessoa sente que isso a está afetando.”

Ele ressalta, porém, que há conteúdos que “não são bons para ninguém”. “Informação sem fonte, sem referência, informação exagerada e com apelo isso é o equivalente a junk food (termo em inglês para comida de baixo valor nutricional). É como na nutrição. Isso a gente sabe que, qualquer pessoa que consumir, não vai fazer bem para ela.”

Para Mariângela, o problema das redes é que ela coloca os usuários em contato somente “com aqueles que têm o mesmo olhar”. “Isso só contribui para fortalecer a ideia de que o outro está errado”, diz. Ela sugere, então, adotar uma estratégia semelhante à usada nos períodos mais críticos da pandemia da covid-19, quando muitas pessoas também se sentiram ansiosas e com medo de serem vítimas da doença.

“Não olha. Dá um tempo. Porque se olhar as notícias está te fazendo mal, trazendo ansiedade, e te deixando mais inflamado, com raiva, ou com medo, talvez valesse a pena fazer um detox. Porque, do ponto de vista do resultado da eleição, (ler ou não os conteúdos) não vai mudar nada”.

Relações familiares

Sobre os conflitos familiares e discordâncias que podem acontecer debaixo do mesmo teto e que também podem disparar sintomas de ansiedade, Barros entende que a melhor estratégia é a conversa entre as partes. “O diálogo costuma ser preferível ao silêncio. Mas, se não for possível o diálogo e o resultado de conversar sobre o assunto é a briga, então é preferível o silêncio”, diz.

Canalizar a ansiedade para uma ação

As pessoas que se veem bastante envolvidas com a disputa eleitoral poderiam, segundo a psicóloga Mariângela Savoya, poderiam aliviar a tensão canalizando o sentimento para ações que se aproximam do objetivo desejado. Um exemplo é participar voluntariamente da campanhas dos candidatos ou ir às ruas apoiar o político de preferência.

“Isso, de alguma forma, pode aumentar a ansiedade”, admite a psicóloga, “mas, ao mesmo tempo, faz com que esse sentimento de angústia seja dirigido para uma ação. Há (nesse ato) a consciência de que você está participando e fazendo algo, mesmo que isso não leve ao resultado desejado no futuro. Mas, ao menos, te faz ter a sensação de que você fez sua parte.”

Confira dicas de como aliviar a ansiedade pré-eleições

– Pratique respiração de forma profunda e lenta (o tempo de inspirar o ar deve ser o dobro do tempo de expirar);

– Realize exercícios físicos para aliviar a tensão;

– Aplique técnicas de relaxamento e meditação;

– Não foque nos sintomas da ansiedade, como taquicardia e respiração ofegante; “se distraia” com o exterior;

 

– Modere o uso das redes sociais e no consumo de informações; se informe apenas por veículos profissionais, referenciados e com credibilidade;

– Não brigue com eleitores do candidato adversário; busque o diálogo. Se não for possível, o silêncio é melhor que a discussão;

– Canalize o sentimento para alguma ação que proporcione a sensação de estar fazendo a diferença e ajudando para o resultado desejado.

https://www.estadao.com.br/saude/como-controlar-a-ansiedade-proximo-as-eleicoes-veja-dicas-de-especialistas/