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Os psiquiatras Arthur Danila e Rodrigo Leite, do IPq,  explicam  o fenômeno  ” psicologia das multidões” , em matéria do Jornal O Globo.

Por Giulia Vidale — São Paulo

 

Bolsonaristas na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, neste domingo, 8 de janeiro

Bolsonaristas na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, neste domingo, 8 de janeiro Evaristo Sa/AFP

Os atos terroristas que aconteceram no Distrito Federal no último domingo geraram revolta e foram alvo de repúdio pela maior parte da população, que assistia estupefata centenas de extremistas bolsonaristas invadirem e depredarem as instalações do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso. Mas o acontecimento também gera questionamentos. O que faz com que um grupo aparentemente pacífico de pessoas se torne violento? Quão coerentes em seus propósitos são as multidões?

Especialistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que o infeliz episódio pode ser resultado de fenômenos conhecidos como “efeito manada” e “psicologia das multidões”. O primeiro, diz respeito a um comportamento contagioso, no qual as pessoas tendem a imitar as outras por sugestionamento.

— O efeito manada é um poderoso fenômeno psicológico impulsionado por uma variedade de influências. É uma forma de influência social onipresente na sociedade moderna e tem sido objeto de muitas pesquisas no campo da psicologia — diz o médico psiquiatra Arthur H. Danila, coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (IPq – USP).

O termo tem origem na análise do comportamento de animais em grupos, principalmente quando estão em situação de perigo. Ao fugir de um predador, por exemplo, todos os animais formam um grupo compacto e se movem como uma unidade.

Mas a expressão também é utilizada para descrever a conduta humana. Acredita-se que esse feito seja resultado da natureza social inerente à condição humana. Segundo o psiquiatra Jair Mari, chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esses comportamentos de imitação fazem parte da sociedade desde seus primórdios.

— Na época medieval, há relatos de pessoas que dançavam para afastar o medo da peste. Algumas dançavam tanto que morriam de exaustão. Na Idade Média, as freiras tinham um comportamento de miar e isso se espalhava pelo convento — conta Mari.

Nos tempos modernos, o efeito manada é amplificado e facilitado pelos meios digitais. Para o psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do IPq, no caso do bolsonarismo, o efeito manada antecede o evento de domingo.

— O efeito manada é gerado pelas mídias sociais, pela rede de transmissão de informações e fake news maciça que levou essas pessoas a criarem uma realidade paralela que culmina na decisão de entrar no ônibus e ir para Brasília. Observando as imagens, a impressão que temos é que as pessoas que estavam ali perderam a percepção da lei, do contrato social. Elas parecem não ter a consciência de que estavam cometendo um crime — avalia Leite.

No entanto, essa ação emocional e irracional influenciada pelo comportamento de outros não significa que essas pessoas não sabiam o que estavam fazendo e não podem ser penalizadas.

— Não são pacientes psiquiátricos, são todos imputáveis e realmente vão ter que encarar as consequências de seus atos— afirma Mari.

Psicologia das multidões

Embora o efeito manada tenha levado as pessoas até a Praça dos Três Poderes, ele não é suficiente para explicar o comportamento primitivo e de barbárie que tomou conta das pessoas. Nesse momento, o que rege o comportamento dos participantes é a “psicologia da multidão”, expressão cunhada pelo intelectual e escritor francês Gustave Le Bon . Segundo ele, em uma aglomeração de pessoas , desaparece a personalidade individual e surge uma mente coletiva incontrolável.

— Uma parte das pessoas presentes tinha como objetivo criar o caos. Mas, a maioria das que chegou a extremos como esfaquear obra de arte, destruir patrimônio público, atacar animais eferir pessoas, não faria isso se estivesse sozinha — diz o psiquiatra da infância e adolescência Ricardo Krause, presidente da Associação Brasileira de Neurologia e Psiquiatria Infantil e Profissões Afins. (ABENEPI).

https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2023/01/atos-de-vandalismo-entenda-o-que-influencia-o-comportamento-das-multidoes.ghtml