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Rodrigo Martins, psiquiatra do IPq,  fala sobre a importância de politicas públicas em todas a rede educacional.  Confira na Folha/UOL

Como lidar com medo causado em crianças e adolescentes por ataque à escola

Especialista ressalta importância do acolhimento aos envolvidos e àqueles que tiveram contato por meio de notícias

SÃO PAULO

 

Instituições de ensino pelo país reagem de forma diferente aos boatos de ameaças que circulam nas redes sociais sobre ataques que supostamente aconteceriam nesta quinta-feira (20). Os boatos ocorrem após ataque em uma escola em São Paulo no final de março, que resultou na morte de uma professora, e um atentado a uma creche em Blumenau (SC) no início de abril, que causou a morte de quatro crianças.

A apreensão nessa data é a lembrança de dois eventos: o massacre de Columbine, que resultou na morte de 15 pessoas nos Estados Unidos em 1999, e o aniversário do ditador nazista Adolf Hitler. A preocupação é com o chamado efeito contágio, quando informação sobre um ataque pode incentivar planos similares.

Os casos alertam para o aumento da violência nas escolas, com episódios de agressão física se tornando mais comuns desde o retorno presencial, após a pandemia. No ano passado, ataques com armas e múltiplas vítimas foram registrados em ao menos 4 estados.

As ações são traumáticas para os alunos, os funcionários, o corpo docente e outros estudantes que souberam do atentado por meio de notícias ou redes sociais. Pode ser necessária ajuda profissional e institucional para lidar com o medo, luto e retornar às atividades.

Gabriela Gramkow, doutora em Psicologia Social e professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), ressalta que, no Brasil, esse tipo de ataque geralmente está vinculado a algum problema anterior. “É natural que existam conflitos no ambiente escolar, a grande questão é como lidar com eles”, diz.

Medidas como a criação de espaços de acolhimento em casa e na escola ajudam os envolvidos a elaborar o luto após o ataque e a evitar novos casos. Além disso, auxiliam aqueles que não foram vítimas do atentado, mas sentem medo ou insegurança em decorrência das notícias sobre o acontecimento.

Esses espaços de escuta não precisam ser organizados apenas por profissionais de saúde mental externos ao ambiente escolar, mas sim pelo próprio educador. “A escola pode e precisa manejar as suas relações educacionais”, aponta Gramkow.

A profissional ressalta a importância de intervenções especializadas nessas situações. Na capital paulista, o Naapa (Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem), da prefeitura de São Paulo, atende jovens em sofrimento psíquico.

O núcleo é composto por profissionais de diversas áreas que atendem as escolas da rede municipal de ensino conforme demanda, e pode auxiliar em casos de ataques.

Iniciativas coletivas e institucionais são importantes para referenciar o luto e compreender o trauma dentro da própria comunidade escolar. Após uma experiência traumática, é importante que os indivíduos, vítimas ou expectadores distantes, falem sobre a experiência. É preciso, porém, respeitar o tempo de cada estudante e do próprio corpo docente.

“Silenciar o luto é continuar o ciclo da violência”, afirma Gramkow.

Nos primeiros dias, é natural que as atividades da escola sejam interrompidas e que muitos não se sintam confortáveis para retornar à rotina.

Gramkow indica que “quando o acontecimento é muito recente, não faz sentido pensarmos em tempo de luto. É necessário um tempo de processamento”.

Contudo, pode haver casos em que o jovem da escola envolvida ou de outras instituições tenha mais dificuldade de voltar às aulas. Leite aponta que “reações agudas ao estresse são esperadas num primeiro momento”. Não há tempo correto para processar o luto, mas o especialista afirma que reações muito intensas ou hesitação em retornar à escola após o período médio de um mês podem ser sinal de alerta.

Nessas ocasiões, a instituição de ensino pode organizar um processo de busca ativa para acolher o estudante e incentivar o seu retorno.

Sinais de paralisia, negação, falta de vontade de se alimentar ou realizar atividades são preocupantes, segundo os especialistas. Sintomas mais graves a se atentar são irritabilidade, insônia, ideação e comportamento suicida. Locais como o Caps-IJ (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil) podem oferecer auxílio.

A professora ressalta, porém, que nos primeiros momentos após o trauma, é preciso acolher as demandas dos estudantes, buscando entender o que elas representam, e enfrentar estratégias de evitação. “É preciso viver esse luto.”

Para Rodrigo Leite, psiquiatra coordenador do Programa de Psiquiatria Social e Cultural do IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo, um dos problemas é não enxergar a saúde mental como uma questão de saúde pública, que demanda políticas específicas.

Ele afirma que os ataques devem trazer um alerta para que políticas públicas sejam instituídas, não só nas escolas atingidas, mas em toda a rede educacional.

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrio/2023/03/como-lidar-com-medo-causado-em-criancas-e-adolescentes-por-ataque-a-escola.shtml