Dr. Mário Rodrigues Louzã, do IPq, explica que “Do ponto de vista da psiquiatria, a aceleração é normal. A preocupação entra quando a pessoa sai desse contexto de correria —ao encerrar o dia de trabalho ou de estudos, ou quando sai de férias—, mas continua agitada”. Confira a matéria na TV Folha.
Vida na ‘velocidade 2x’: entenda quando a pressa vira patologia
Sensação de ganhar tempo ouvindo mensagens ou aulas aceleradas pode ser fantasiosa, além de criar problemas na comunicação
Que atire o primeiro celular quem nunca deu aquela aceleradinha num áudio de Whatsapp para chegar logo no ponto da mensagem ou ganhar tempo para resolver outros pepinos do dia.
O analista de TI Daniel Costa, 43, é uma dessas pessoas. Ele sempre se considerou um cara tranquilo, mas a possibilidade de acelerar as mensagens ou assistir às aulas da faculdade e da pós —os quais cursa concomitantemente— fez com que percebesse uma agitação fora do normal.

“Não consigo mais acompanhar vídeos em velocidade normal. Fico ansioso para chegar logo no ponto que preciso ouvir. Inclusive, se eu pudesse, aceleraria também algumas pessoas”, diz, referindo-se às “reuniões intermináveis com algumas pessoas mais lentas”.
Daniel reconhece, porém, que tanta pressa já o atrapalhou. “Precisei voltar alguns vídeos para ouvir novamente na velocidade normal. Acabei perdendo tempo”, ri.
“Eu acelero tudo que é possível. E com isso, acabo ficando cada vez mais acelerada. Inclusive, percebo que ao mandar áudio, eu já falo na velocidade dois”, conta a social media Ariel Komatsu Miranda, 36.
“Também não tenho paciência para ouvir os áudios e sempre avanço para ver se tem mais coisa. Já perdi muitas informações importantes porque pulei a mensagem”, confessa.
Ariel diz que essa pressa “além da conta” veio com a pandemia. “Acelerei demais e agora não consigo voltar”, diz a mãe de Rafaela, 10, Monique, 9, e Caio, 8.
Para a psicóloga Karina Theodoro, essa “pressa normalizada” em nossa sociedade pode ser um perigo. “Quando aceleramos uma mensagem, a fala pode mudar para um tom de raiva. Como isso entra na nossa cabeça? Quantas relações são quebradas por má interpretação?”, questiona.
“Do ponto de vista da psiquiatria, a aceleração é normal. A preocupação entra quando a pessoa sai desse contexto de correria —ao encerrar o dia de trabalho ou de estudos, ou quando sai de férias—, mas continua agitada”, explica Mário Rodrigues Louzã, coordenador do Programa Déficit de Atenção e Hiperatividade do Instituto de Psiquiatria do HC.
O estudante Gustavo Margato, 18, também é adepto da “velocidade 2x” para tudo. “Quando vejo aulas aceleradas, me forço a prestar mais atenção”, pontua.
A sensação de ganhar tempo ouvindo mensagens ou aulas na velocidade dois pode ser fantasiosa, diz Louzã. “A mente humana tem capacidade de processamento linear e suporta até uma velocidade. Quando as frases estão muito aceleradas não dá tempo para o cérebro concatenar o que está sendo dito. A pessoa aprende de forma misturada, confusa ou superficial”, pontua.
“A evolução humana não se dá na mesma velocidade da tecnologia. Temos que aceitar que temos limite”, finaliza o especialista.