Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Filter by Categories
Cursos e Eventos
Divulgação Científica
Lançamentos Livros
Notícias
Sem categoria
Triagens para Projetos de Pesquisa

Patrícia Brunfentrinker Hochgraf, do IPq, participa da reportagem sobre o que acontece no seu corpo quando você para de beber álcool. Confira no UOL.

SAÚDE
O QUE ACONTECE NO SEU CORPO
O que acontece no seu corpo quando você para de beber álcool

Arte UOL
Imagem: Arte UOL
Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

11/04/2023 04h00Atualizada em 18/05/2023 15h13

Uma semana sem álcool. Um janeiro seco. Beba só nos finais de semana. Beba menos, seja o seu melhor. Estas frases são exemplos de slogans utilizados em campanhas de saúde idealizadas em diferentes partes do mundo para estimular a redução do consumo de bebidas alcoólicas. Diante dessas, a ordem é adotar aquela regra onde o menos vale mais.

Prejudicial para todos, independente da idade, sexo, gênero, etnia, tolerância ou estilo de vida, o álcool se relaciona com mais de 200 doenças diferentes. Isso significa que, ao investir na abstinência ou na redução de seu consumo, você fica fora de uma estatística que conta 3 milhões de mortes por ano resultantes do seu uso inadequado em todo o mundo.

Esse dado representa 5,3% de todas as mortes.

43% da população com idade superior a 15 anos consumiram a bebida no último ano.

14 anos é a idade na qual os adolescentes tomam a primeira dose nas Américas.

Cerca de 13,5% do total de óbitos são atribuíveis a ele, na faixa de 20 a 39 anos.

1 em cada 12 adultos (8,2%) nas Américas tem transtornos relacionados, quase o dobro da média mundial (5,1%).

A região tem maior prevalência de transtornos relacionados ao álcool em mulheres, e a segunda maior entre homens.

O que você ganha com isso
As evidências científicas sobre a relação existente entre a abstinência ou a moderação do consumo de álcool e a reversão dos impactos negativos da substância em todo o corpo são bastante estabelecidas.

No curto prazo, além do sumiço das ressacas, é comum observar uma melhora nos níveis de energia, da hidratação, do aspecto da pele, além de mudanças no peso, já que haverá menor consumo de calorias.

A longo prazo, os lucros são distribuídos por todos os sistemas do organismo, destacando-se:

Mais saúde para o fígado
Menor risco de pneumonia
Melhora da performance sexual
Prevenção e controle de doenças cardiovasculares
Blindagem contra alguns tipos de câncer
Mais saúde para o feto
Cérebro afiado
Você se livra de doenças hepáticas
Entre todos os órgãos afetados pela ingestão exagerada do álcool, o fígado é o que mais sofre. A razão para isso é que ele é responsável por 97% do metabolismo do álcool.

O restante é eliminado pelo suor, pela urina e a respiração. Ele também é o responsável pela eliminação de toxinas ingeridas ou produzidas pelo organismo.

Os danos são progressivos, e começam com a formação de gordura no fígado. Se o consumo continua, aparece a esteato-fibrose.

De 10% a 35% desses quadros evoluirão para a hepatite alcoólica; a partir deste estágio, 40% a 60% dos pacientes terão cirrose hepática com suas complicações —hemorragia, ascite, a popular barriga d’água, encefalopatia—, além do risco de 2% a 4% ao ano de desenvolver tumor no fígado.

O tempo desse processo é de 10 a 15 anos.

As mulheres metabolizam o álcool de forma diferente da dos homens e ainda possuem mais gordura corporal. Esses fatores fazem delas mais suscetíveis aos danos.

Com a abstinência, porém, a gordura do fígado e a hepatite alcoólica são frequentemente reversíveis, e há aumento nas taxas de sobrevida nos quadros da inflamação persistente e cirrose.

Você, enfim, consegue respirar fundo
O álcool é considerado um fator de risco para pneumonias adquiridas fora dos hospitais. E basta ingerir de 10 g a 20 g de álcool diariamente para somar 8% a mais do risco de ficar doente. Os dados foram publicados pelo periódico British Medical Journal.

Relatório da OMS indica que, para além da doença, a substância também atrapalha o tratamento, o que eleva a chance de óbito.

Você tem mais facilidade para entrar no clima
As pesquisas médicas já confirmaram a relação positiva entre abstinência do álcool e melhora da disfunção erétil —especialmente quando não há lesões no fígado, o paciente é jovem e o período de tempo do consumo do álcool é menor, assim como o número de doses consumidas diariamente. Os dados foram publicados no The Journal of Sexual Medicine.

A expectativa, entre todos os gêneros, é que as bebidas alcoólicas sejam capazes de esquentar a vida sexual.

A realidade é que exageros levam à ejaculação precoce, disfunção erétil, insatisfação com o orgasmo e à perda da libido.

A disfunção erétil é a queixa mais comum.

Mais desinibidas, as pessoas fazem sexo desprotegido ou com múltiplos parceiros, e ainda podem se ver forçados a essa prática, o que as expõe a outros riscos, como ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

Você mantém o coração em bom estado
Parar de beber ajuda na prevenção e no controle da hipertensão (pressão alta), fibrilação atrial, insuficiência cardíaca, AVC (acidente vascular cerebral), além de alterações na pressão sistólica e diastólica (contração e relaxamento) do coração.

Todos esses quadros estão relacionados à ingestão excessiva de bebidas alcoólicas.

Os grandes vilões nessas situações são o etanol e o acetildeído, a primeira reação metabólica ao álcool promovida pelo organismo.

Deficiências de nutrientes e níveis aumentados de toxinas no corpo aceleram esses resultados.

Ao longo do tempo, o músculo do coração enfraquece (cardiomiopatia alcoólica).

O aumento de risco de morte por hipertensão é de 7%.

A pressão aumentada ainda pode levar a danos nos rins.

A doença cardíaca hipertensiva foi a principal causa de morte decorrente do uso do álcool entre as brasileiras em 2020. Os dados são da Cisa.

Você passa longe dos tumores
Há décadas o álcool foi classificado como cancerígeno pela Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer. E ele está no mais alto grupo de risco, que inclui o tabaco e a radiação.

Uma série de fatores influenciam nesse sentido, desde alterações indiretas no DNA até sinergia com outros agentes causadores da doença. Além disso, o álcool reduz os níveis de oxidantes (vitaminas A, E, zinco e ferro, do complexo B, ácido fólico e tiamina), e ainda enfraquece as defesas do corpo.

Garganta, pulmão, esôfago, estômago, reto, fígado e mamas são os órgãos mais afetados.

Entre as mulheres, mesmo o consumo de pequenas quantidades parecem potencializar o risco para o câncer de mama.

De modo geral, a relação entre tumores e álcool é dose dependente. Quanto mais se consome, maior é o risco.

Você garante o bom desenvolvimento do seu bebê
Uma das proibições absolutas entre mulheres grávidas é o consumo de álcool. É que a substância pode resultar em transtornos do espectro alcoólico fetal, um conjunto de deficiências físicas, mentais e comportamentais. A síndrome alcoólica fetal e o transtorno de neurodesenvolvimento são exemplos.

Crianças que vivem em instituições, unidades para menores infratores ou que recebem educação ou atenção clínica especializadas têm de 10 a 40 vezes mais risco de apresentar o problema comparado à população em geral.

Basta beber 60 g de álcool por semana, ou mais de 30 g em apenas duas ocasiões na gravidez.

Possíveis sintomas no bebê: alterações faciais, no crescimento, no SNC (sistema nervoso central) —como perímetro cefálico reduzido e convulsões não relacionadas a febre.

Dificuldades de percepção, aprendizagem, memória, atenção, regulação do humor e controle do comportamento também podem estar presentes.

Você joga a favor do seu cérebro
Quando o assunto é a saúde cerebral, não existe consumo seguro em todas as faixas etárias. Deixar de beber tem como efeito imediato a redução dos seguintes quadros:

Dor de cabeça (incluindo enxaqueca)
Mudanças no sono
Deficiências cognitivas (redução da atenção, controle, julgamento, concentração, etc.)
Perda da memória e apagões
Intoxicação (deficiências psicomotoras)
Perda das funções básicas –uma overdose pode desacelerar a respiração, o coração, etc.
A longo prazo, podem ser observadas a melhora de sintomas e condições:

Sono, humor e de doenças psiquiátricas (ansiedade e depressão)
Pensamentos suicidas e suicídio
Demência (que pode ser precoce)
Dependências
Perda de funções executivas como raciocínio, planejamento, controle inibitório, etc.
Mesmo bebendo menos, o risco permanece
drink coquetel bebida alcoólica bar bartender – iStock / Getty Images – iStock / Getty Images
Imagem: iStock / Getty Images
É verdade que muitas pesquisas concluem que o consumo de pequenas quantidades de álcool ajuda a prevenir o diabetes, a doença isquêmica do coração, a demência e até o declínio cognitivo. O fato é que, até agora, não ficou esclarecido o quanto seria essa quantidade capaz de promover a saúde.

De olho nos malefícios que o álcool tem causado em todo o mundo, as mais importantes autoridades sanitárias, incluindo a OMS, reconhecem que não dá para se falar em volume seguro de álcool porque não se pode saber como cada organismo reagirá à substância.

Tenha em mente que o álcool é considerado uma substância psicoativa com potencial de causar dependência, e tem impacto negativo sobre o organismo.

A regra de ouro para quem deseja preservar a saúde é abster-se do álcool.

Um consumo moderado, que é considerado de baixo risco, corresponderia a 1 dose para mulheres, e até 2 para homens ao dia.

Cada dose padrão de bebida contém o equivalente a 10 g/14 g de álcool puro, o que corresponde a: 1 copo de cerveja (255 ml); 1 taça de vinho (100 ml); 1 dose de destilado (30 ml).

Nas Américas, 25% da população geral reconhece que consome mais de 60 g de álcool puro (cerca de 6 doses padrão para homens) e mais de 40 g de álcool puro (mais de 4 doses para mulheres), pelo menos uma vez por mês, o que caracteriza o chamado beber excessivo episódico.

Coloque uma meta, só não vale dobrá-la!
Se você se animou com as vantagens de cortar ou reduzir o álcool, adote as seguintes medidas:

Conte quantas doses consome a cada semana e vá reduzindo gradualmente, até conseguir não exceder os limites que representam menor risco para a saúde.

Quando estiver bebendo, beba mais devagar.
Ingira mais água enquanto bebe.
Para cada bebida alcoólica, tome outra sem álcool.
Coma antes e durante o consumo ou prefira beber somente durante o jantar.
Observe o rótulo das bebidas e prefira as que possuam menor teor alcoólico.
Varie as opções de lazer. Sair para beber com os amigos não precisa ser sua única opção.
Fontes: Aguinaldo Nardi, urologista e professor do curso de medicina da FOB-USP (Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo); Alan Luiz Eckeli, professor de neurologia e medicina do sono na FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Patrícia Brunfentrinker Hochgraf, psiquiatra especialista em dependência química, coordenadora do Programa da Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo); José Milton de Castro Lima, hepatologista preceptor dos programas de residência em clínica médica e gastroenterologia do HUWC-UFC (Hospital Universitário Walter Cantídio da Universidade Federal do Ceará), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares). É também professor titular da mesma universidade. Revisão médica: José Milton de Castro Lima.

Referências:

Ministério da Saúde
Cisa (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool)
Opas (Organização Panamericana da Saúde)
OMS (Organização Mundial da Saúde)
CDC (Centers for Disease Control and Prevention)
Paradis, C., Butt, P., Shield, K., Poole, N., Wells, S., Naimi, T., Sherk, A., & the Low-Risk Alcohol Drinking Guidelines Scientific Expert Panels. (2023). Canada’s Guidance on Alcohol and Health: Final Report. Ottawa, Ont.: Canadian Centre on Substance Use and Addiction
Karunakaran A, Michael JP. The Impact of Abstinence From Alcohol on Erectile Dysfunction: A Prospective Follow up in Patients With Alcohol Use Disorder. J Sex Med. 2022 Apr;19(4):581-589. doi: 10.1016/j.jsxm.2022.01.517. Epub 2022 Feb 27. PMID: 35236641
Iranpour A, Nakhaee N. A Review of Alcohol-Related Harms: A Recent Update. Addict Health. 2019;11(2):129-137. doi:10.22122/ahj.v11i2.225
Simou E, Britton J, Leonardi-Bee J. Alcohol and the risk of pneumonia: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open. 2018;8(8):e022344. Published 2018 Aug 22. doi:10.1136/bmjopen-2018-022344

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/04/11/o-que-acontece-no-seu-corpo-quando-voce-para-de-beber-alcool.htm