Beny Lafer, professor associado do Departamento de Psiquiatria da USP, fala sobre bipolaridade, em matéria do O Globo.
Transtorno bipolar acomete de 1% a 2,5% dos brasileiros e apresenta primeiros sintomas em jovens entre 16 e 25 anos
Por O Globo
O transtorno bipolar é uma doença crônica e sem cura caracterizada por uma forte variação de humor, que oscila entre episódios depressivos e eufóricos, separados por períodos de estabilidade. Os sintomas da doença começam a se manifestar, em média, entre jovens de 16 a 25 anos, mas também entre crianças e pessoas mais velhas e, no Brasil, acomete de 1% a 2,5% da população.
Quais são os tipos de transtorno bipolar?
O professor Beny Lafer, do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) explica que há dois tipos. No tipo 1, que acomete cerca de 1% da população mundial, há a evidência da euforia e é caracterizado por excesso de confiança, mania de grandiosidade, irritabilidade e humor super elevado, além de alucinações e delírios.
Já o tipo 2, que representa de 0,5% a 2% da população, há uma depressão mais aguda e ao menos um episódio brando de euforia.
Nos dois quadros, as crises podem ser graves, moderadas ou agudas, e afetam sensações, ideias, emoções e o comportamento bipolar.
Quais são os sintomas da bipolaridade?
O psiquiatra aponta que pessoas com bipolaridade têm períodos depressivos com duração entre duas semanas até meses. Entre os sintomas estão:
- Falta de prazer;
- Alterações de sono e de apetite;
- Baixa energia;
- Diminuição do desejo sexual;
- Ideias de suicídio.
Já os períodos de euforia duram entre 4 dias até meses, e apresentam características como:
- Humor expansivo;
- Excitação;
- Busca de coisas prazerosas;
- Aumento considerável da atividade;
- Diminuição da necessidade do sono;
- Comportamentos impulsivos voltados para álcool, drogas, sexo e jogos de azar.
— Além dos sintomas, são pessoas que normalmente têm uma qualidade de vida ruim, que às vezes precisam ser hospitalizadas. Normalmente, também precisam da ajuda de um familiar para levar a um cuidado médico, porque, durante a euforia, sentem que estão no melhor momento de vida e não conseguem ver isso como problema — explica o psiquiatra.
Ele recomenda que, após apresentar os primeiros sintomas, a pessoa procure um médico para iniciar o tratamento e evitar o aumento dos episódios de oscilação de humor.
Quais são as causas do transtorno de bipolaridade?
O transtorno bipolar se manifesta principalmente em pessoas com pais ou mães que já tenham a doença ou por alterações biológicas no cérebro. Entre filhos de pessoas com o transtorno, a chance de desenvolver a bipolaridade é entre 10% e 20%.
O professor Beny Lafer afirma que é o transtorno psiquiátrico ligado a fatores genéticos mais comum em adultos. Segundo ele, fatores ambientais também podem desencadear a doença como:
- Abusos e maus tratos na infância;
- Estresse na idade adulta;
- Abuso de álcool e drogas na adolescência;
- Traumas emocionais;
- Estresse ambiental.
Quais as consequências da doença para o bipolar?
Pessoas com o transtorno bipolar têm maior propensão a desenvolver diabetes e obesidade, e cerca de metade das pessoas com o transtorno têm dificuldades cognitivas, como falta de concentração e dificuldade de foco no trabalho.
Segundo o professor Beny Lafer, estudos produzidos nos países escandinavos apontam que pessoas bipolares vivem 12 anos a menos que a média da população, principalmente devido a doenças cardiovasculares e alto índice de suicídios em casos sem tratamento.
Qual o tratamento para o transtorno de bipolaridade?
O tratamento é feito com medicamentos de uso contínuo, como estabilizadores de humor, anticonvulsivantes e antipsicóticos para tratamento dos episódios de euforia, de depressão e também para prevenir recaídas. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de antidepressivos.
— Durante os episódios, tem que ter o medicamento. Fora, estamos estudando bastante na USP a importância de tratamentos adjuntos para melhorar a qualidade de vida e o funcionamento das pessoas. Então, psicoterapias, exercícios físicos, nutrição e psicoeducação, que é a pessoa conhecer melhor a doença — explica o professor Beny Lafer, do Departamento de Psiquiatria da USP.
Existem formas de prevenção para a bipolaridade?
Não. No caso de crianças filhas de pais com a doença, o recomendado é manter o acompanhamento desde antes do aparecimento dos sintomas.
Fontes: Ministério da Saúde; Associação de Apoio aos Doentes Depressivos e Bipolares; Carvalho A., Firth J., Vieta E. Bipolar disorder. In: The New England Journal of Medicine; Beny Lafer, professor associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e professor adjunto do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Toronto, coordenador do Programa de Transtorno Bipolar do Instituto de Pesquisa do Hospital de Clínicas da USP.
https://oglobo.globo.com/saude/guia/bipolaridade-o-que-e-sintomas-causas-e-tratamentos.ghtml