Marcela Kotait, nutricionista voluntária do Programa de Transtornos Alimentares do IPq (Instituto de Psiquiatria da USP) fala sobre a responsabilidade dos pais ao oferecer alimentos aos filhos em entrevista na Revista Crescer
Segundo a nutricionista Marcela Kotait, do Programa de Transtornos Alimentares do IPq (Instituto de Psiquiatria da USP), quando os adultos usam a comida como chantagem, recompensa ou punição passam às crianças uma mensagem errada e negativa do que é se alimentar. “Aprender a respeitar os sinais de fome e saciedade é fundamental para uma boa relação com o corpo e com a comida” , diz ela. A nutricionista explica que a responsabilidade dos pais é oferecer alimentos selecionados e de qualidade, mas a quantidade a ser consumida deve ser uma decisão da criança – e isso é fundamental para que ela aprenda a regular a saciedade.
Respeite a saciedade do bebê
Outro estudo, da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, resultado de uma revisão de 50 pesquisas sobre nutrição, psicologia e interações sociais durante a alimentação de bebês, mostrou que a alimentação excessiva nos primeiros anos de vida é uma das causas da epidemia de obesidade infantil. “Os dois primeiros anos de vida são um período crítico em que se modelam comportamentos alimentares independentes e a capacidade de autorregulação do consumo de calorias. Bebês saudáveis parecem ter a capacidade de ajustar a quantidade de comida que ingerem com a necessidade fisiológica de crescimento e desenvolvimento do corpo”, afirmou em nota Eric Hodges, um dos principais autores da análise.
Para o pesquisador, obrigar a criança a se alimentar quando ela afirma já estar saciada prejudica o desenvolvimento da capacidade de se autorregular em relação à comida. “O bebê aprende a comer observando os pais e interagindo com eles. Quando os adultos os alimentam além do necessário isso engana o nervo vago, responsável por comunicar as sensações de fome e saciedade ao cérebro. Dessa forma, a mente acaba sendo efetivamente ‘programada’ para comer mais, o que aumenta o risco de obesidade”, explica Hodges.