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Triagens para Projetos de Pesquisa

Arthur Danila, do IPq, comenta estudo sobre depressão, em entrevista ao O Globo. Confira!

Por

Eduardo F Filho

 — São Paulo

 

Estima-se que 300 milhões de pessoas vivam com depressão no mundo. No entanto, a doença ainda é cercada de estigma e desinformação. Ou era? Uma pesquisa realizada pela plataforma Hibou, mostrou que 94% dos brasileiros já entendem que a depressão é uma doença.

– As pessoas perceberam que não é frescura, não é apenas se mexer, se levantar e fazer alguma coisa. Elas começaram a entender que a depressão paralisa as pessoas. Esse número, sete anos atrás, estava na faixa dos 80%. Os brasileiros estão prestando atenção,se informando, sabem os gatilhos da depressão e entendem que essas pessoas precisam de ajuda — explica Ligia Mello, diretora de estratégia da empresa de pesquisas Hibou Insights, um instituto especializado em comportamento humano que oferece serviços de pesquisas de mercado, análises mercadológicas, insights e planejamento estratégico.

Apenas 5% ainda acreditam que a doença é um estado de espírito ou humor e 6% consideram que é sinônimo de fraqueza.

— A pandemia ajudou muito as pessoas a entenderem a vulnerabilidade e a finitude da vida. Antes o brasileiro achava que só se morria por acidente de carro, bala perdida, assalto, ou idade avançada, e percebemos que não é bem assim. O principal é continuar falando, mostrando que essa doença está próxima e latente na maioria das pessoas para cada vez mais desmistificar essa situação — avalia Mello.

A pesquisa também revelou os principais motivos que levaram as pessoas a um quadro depressivo: a dificuldade financeira ou de ascensão profissional lidera, com quase 70%; seguida por falta de perspectiva econômica e desemprego (60%).

O excesso de trabalho e estresse, além da falta de perspectiva de vida (ambos com 53%) — coincidentemente são as mesmas motivações que levam as pessoas a tentar tirar a própria vida, segundo a pesquisa.

Em relação a 2023, por exemplo, houve um aumento de 8% no número de pessoas que responderam que o motivo principal que levou a pensarem em suicídio foi não corresponder às expectativas da família/amigos. E 6% a mais responderam problemas com dívidas.

— 28% das pessoas afirmaram que não se sentem correspondentes à expectativa da família ou dos amigos. Os jovens, principalmente, estão aflitos em cumprir a expectativa que os outros criaram para eles. Acredito que isso é um pouco do excesso de esperança que o brasileiro tem. Aquele lema de não desistir nunca. Sempre acreditamos que tudo vai dar certo no final, mas não é bem assim. E depois vem a frustração, a tristeza extrema por não ter conseguido alcançar aquele objetivo, e vem o quadro depressivo — diz Mello.

Sinais e gatilhos

A pesquisa também mostrou que houve aumento entre os brasileiros que perceberam sinais em pessoas que não estavam bem. Cerca de 6 em cada 10 já identificaram sintomas depressivos nos amigos. Entre os principais sintomas estão:

  • Ficou mais silenciosa que o normal 33%
  • Desinteresse de forma geral 30%
  • Se afastar de interações sociais 29%
  • Dormia muito 17%
  • Postou sobre coisas relacionadas ao momento 11%
  • Buscou se automedicar para se sentir melhor 11%
  • Ficou sem tomar banho por vários dias 11%
  • Conversas repetidas sobre o tema 9%
  • Falou, buscou conversar com alguém 6%

Mais de 80% aconselharam essas pessoas a procurarem ajuda, com 90% das pessoas afirmando que psicólogos e psiquiatras eram os melhores caminhos para um tratamento.

— A psiquiatria no passado não era uma ciência como a vemos hoje. Ela era extremamente estigmatizada. As pessoas acreditavam, e muito por conta de filmes, novelas de antigamente, peças de teatro, que era coisa de “louco”. O foco da psiquiatria hoje é reintegrar o indivíduo à sociedade o mais rapidamente e assertivamente. Antes, tinha um isolacionismo e apartava este paciente da sociedade — explica o psiquiatra e Coordenador do Programa de mudança de hábito e estilo de vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Arthur Danila.

Entretanto, segundo o médico, a maior parte das pessoas ainda sofre calada, sozinha e sem saber pedir ajuda por conta do medo do julgamento social. E isso também transparece nos dados da nova pesquisa, visto que, 4 em cada 10 pessoas não recorreram à ajuda especializada em momentos de crises depressivas ou pensamentos suicidas.

— Pedir ajuda é um ato de extrema coragem. Mostra maturidade e autoconhecimento. É mais fácil você enxergar o problema no outro e oferecer ajudar do que aceitar e perceber que você mesmo precisa. O ser humano tem essa crença de que conseguirá resolver seus problemas sozinho.

Cansaço, estresse e esquecimento

A pesquisa também mostrou que as pessoas estão se sentindo mais cansadas este ano (84%), estressadas (80%) e esquecidas (81%). Segundo Danila, isso tem a ver com a ansiedade.

De acordo com um mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo. Para se ter uma ideia, aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica.

— Em momentos de inseguranças e incertezas, as pessoas tendem a ficar mais ansiosas e apreensivas. Na tentativa de ter controle da situação e resolver todos os problemas de suas esferas sociais, podem ficar agressivas. Com isso, tendem a gastar muita energia, não conseguem focar sua atenção, não resolvem nenhum problema e acabam se queixando de que esqueceram das coisas — explica o psiquiatra.

É importante que o paciente com sintomas de depressão busque ajuda imediatamente porque, se não tratada, a doença pode ser grave. Além disso, um médico ou psicólogo poderá realizar o devido diagnóstico e diferenciar um desânimo comum do quadro que interfere na capacidade de trabalhar, dormir, estudar, comer e aproveitar a vida de forma geral.