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Tatiana Filomensky, do IPq, explica ao Portal Terra que a principal diferença entre o consumo normal e o compulsivo não está apenas no valor gasto, mas nas consequências emocionais e pessoais que o comportamento traz para o indivíduo. Confira!

Oniomania: a Black Friday é um vilão para os compradores compulsivos?

Black Friday deals
Transtorno é caracterizada por uma necessidade incessante de comprar, muitas vezes sem uma justificativa real ou financeira

Thais Matos, colaboração para o Terra
17 nov
2024
– 05h00
(atualizado às 05h00)
Mental health services

O impulso de  compra incontrolável é uma condição conhecida como Oniomania, ou Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC)
Foto: Getty Images

A Black Friday, evento que ocorre anualmente no mês de novembro, é aguardada com entusiasmo por muitos consumidores, que aproveitam as ofertas e promoções para adquirir produtos planejados ao longo do ano. No entanto, para algumas pessoas, as promoções podem se tornar um verdadeiro desafio. Em vez de aproveitar de forma estratégica as ofertas, elas se veem dominadas por um impulso de compra incontrolável, uma condição conhecida como Oniomania, ou Transtorno do Comprar Compulsivo (TCC).

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A Oniomania é caracterizada por uma necessidade incessante de comprar, muitas vezes sem uma justificativa real ou financeira. Quem sofre desse transtorno sente um alívio ou prazer momentâneo ao adquirir novos itens, mas logo após as sensações de arrependimento, culpa e de ter perdido o controle vem à tona.

A psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do grupo de atendimento a compradores compulsivos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de SP, explica ao Terra que a principal diferença entre o consumo normal e o compulsivo não está apenas no valor gasto, mas nas consequências emocionais e pessoais que o comportamento traz para o indivíduo.

“As pessoas acabam não fazendo ponderações entre a vontade de comprar e as possibilidades. É uma necessidade de aquisição excessiva em que você acaba colocando em risco muitas vezes as finanças e as relações porque acaba envolvendo mentiras, você começa a esconder o que comprou e acaba afetando a família. É um problema que vai afetar de alguma maneira as pessoas com quem você convive e vão percebendo o seu descontrole com a quantidade de coisas que você consome. Na população geral, não há uma diferença significativa entre os gêneros. E, normalmente, as pessoas buscam  tratamento após os 30 ou 40 anos, quando os efeitos do transtorno começam a impactar mais fortemente a vida financeira e emocional da pessoa”, comenta a especialista.

Além disso, o TCC não ocorre de forma isolada e frequentemente está associado a outros transtornos. “É bastante comum que o transtorno esteja relacionado a um quadro de depressão, especialmente devido às tentativas frustradas de controlar o impulso de comprar, o que gera uma sensação de angústia e frustração. A ansiedade também está presente, já que a pessoa se preocupa com as consequências financeiras, com o medo de ser descoberta ou de não conseguir pagar as dívidas”, explica.

Tatiana Filomensky enfatiza ainda que a compulsão por compras não está ligada ao poder aquisitivo da pessoa. Isto é, o transtorno não tem relação direta com o quanto a pessoa ganha, podendo afetar  indivíduos de várias classes sociais.

Descrito pela primeira vez na década de 1990, o transtorno das compras compulsivas está sendo cada vez mais estudado nos dias atuais, devido à facilidade de compras com o uso de tecnologia. Há uma tendência crescente de que ele seja classificado como um transtorno comportamental, semelhante à dependência de jogo, sendo incluído em futuras edições da CID (Classificação Internacional de Doenças), conforme explica a especialista.

A diferença entre o consumo normal e o compulsivo não está apenas no valor gasto, mas nas consequências emocionais e pessoais que o comportamento traz para o indivíduo.
Foto: Getty Images

Para quem sofre com o TCC, a Black Friday pode ser um desafio extra. “É um momento delicado, onde o desejo de adquirir mais produtos pode se intensificar. Para quem tem dificuldades de controle, o senso de urgência e o medo de perder uma oferta podem ser fatores de risco. Mas isso não significa que a Black Friday seja o vilão da história”, completou a psicóloga.

Para ajudar os compradores compulsivos a lidarem melhor com as promoções, Tatiana recomenda fazer um planejamento, como, por exemplo, realizar uma pesquisa de preços, criar uma lista de desejos e estabelecer um orçamento são fundamentais para evitar  compras impulsivas. E, se possível, evite ficar exposto ao estímulo das promoções, desabilite notificações de aplicativos e redes sociais que podem aumentar a ansiedade.

A psicóloga ainda sugere que as pessoas em tratamento ou que já reconhecem o transtorno no seu comportamento procurem apoio. “Se você sentir que está perdendo o controle, é fundamental buscar ajuda. Não hesite em procurar um profissional de saúde mental para apoio. O tratamento pode ajudar a entender melhor as emoções que levam à compulsão e oferecer ferramentas para um consumo mais consciente”, ressalta.

O Programa Ambulatorial Integrado dos Transtornos Impulsivos (Pro-AmitiI) está localizado na Rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, Cerqueira César, dentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, atendendo de Segunda à sexta das 10h às 16h.

A Black Friday pode ser aproveitada de forma saudável, desde que você tenha consciência dos seus limites e se planeje. Essa semana de promoções pode ser aproveitada sem estresse ou endividamento desnecessário. E é sempre bom ressaltar que o consumo não deve ser uma fuga para as emoções negativas, mas uma escolha consciente e ponderada.

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/oniomania-a-black-friday-e-um-vilao-para-os-compradores-compulsivos,4cd11768731379f8919f9848693abef5io5slkd5.html#:~:text=A%20Oniomania%20%C3%A9%20caracterizada%20por,o%20controle%20vem%20%C3%A0%20tona.