Rodrigo Machado, do IPq, fala sobre dependência de pôquer, em entrevista ao jornal Estadão.
Dependência de pôquer: ‘Procura por tratamento é cada vez maior’, diz médico do HC
Rodrigo Machado, psiquiatra do Hospital das Clínicas da USP, falou à coluna sobre riscos da compulsão no jogo de pôquer
Atualização:
Enquanto as bets passam por escrutínio público, o setor de pôquer prevê triplicar o faturamento no Brasil até 2026, segundo estimativa do Brazilian Series of Poker, maior campeonato de pôquer da América Latina.
Para o psiquiatra Rodrigo Machado, coordenador do programa de dependências e do ambulatório de transtornos do impulsos, onde são atendidas pessoas com vícios em jogos, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, no entanto, os riscos são iguais. “Tentam fazer um lobby a favor do pôquer, dizendo que é um jogo esportivo, mas, na verdade, é um jogo de azar. Há risco de dependência, assim como nas bets. Tratamos toda semana no HC pessoas que são dependentes de pôquer e que precisam de tratamento porque se torna uma doença”, diz o médico, que também integra o International Society for the Study of Behavioral Addictions. Segundo ele, os casos vêm aumentando no Hospital das Clínicas desde 2018. “A procura é cada vez maior, a ponto de chegar a ter filas longas de espera.”
“O que define jogos de azar é quando empenhamos dinheiro na expectativa de um resultado futuro permeado por uma aleatoriedade, por elementos que não estão sob controle. A aleatoriedade gera risco que gera a excitabilidade no ato de apostar. E é isso que estimula o sistema de recompensa cerebral, que é a área do cérebro reguladora da percepção de prazer”, explica o médico.
Estudos acadêmicos, diz o médico, mostram que o risco do poker vem pelo alto nível de prazer gerado justamente pela risco ao apostas. “Os jogos de azar, assim como, por exemplo, as substâncias químicas, são muito geradores de prazer, ou seja, são muitos sedutores pro cérebro. Ao se expor recorrentemente a esses comportamentos, parte das pessoas estão sujeitas a modificações no sistema de recompensa cerebral e começam a ter um comportamento de dependência em função daquela prática”, afirma.