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Eduardo Aratangy, do IPq, fala sobre transtornos alimentares em idosos, em entrevista ao UOL/VivaBem.

 

Longevidade
Idosos também têm transtornos alimentares; causas vão de solidão a remédios
Samantha CerquetaniColaboração para VivaBem
11/07/2025 05h30

Embora mais frequentes entre os jovens, os transtornos alimentares também podem surgir na terceira idade. Esses distúrbios envolvem padrões alimentares prejudiciais de alimentação, como a recusa persistente em se alimentar, episódios de compulsão ou obsessão com o peso. Essas atitudes, a longo prazo, comprometem a saúde física, o bem-estar emocional e a qualidade de vida do idoso.

De acordo com uma pesquisa de 2024, estima-se que os transtornos alimentares acometam 3,5% das mulheres na terceira idade e entre 1 e 2% dos homens idosos.

Entre os fatores que contribuem para o desenvolvimento desses transtornos nessa faixa etária, destacam-se:

Solidão, luto e perda de vínculos afetivos, que podem levar à depressão e à redução do apetite;

Alterações cognitivas, como a demência, que interferem nos hábitos alimentares;

Mudanças na imagem corporal;

Dificuldade para mastigar ou engolir;

Uso contínuo de medicamentos que afetam o apetite ou causam efeitos colaterais gastrointestinais;

Presença de doenças crônicas, que impactam o comportamento alimentar;

Reaparecimento de transtornos alimentares vividos em fases anteriores da vida, como na adolescência;

Ansiedade e estresse relacionados ao envelhecimento em uma sociedade que valoriza excessivamente a juventude, o que pode aumentar a pressão estética.

“Fatores psicológicos têm grande influência no surgimento de transtornos alimentares em idosos. Em algumas situações, a alimentação passa a suprir carências emocionais, como na ansiedade, condição conhecida como hiperfagia psicogênica, em que a pessoa consome alimentos em excesso. Alguns quadros depressivos podem modificar de forma significativa a maneira como o idoso se alimenta”.
Eduardo Aratangy, psiquiatra e supervisor do Programa de Transtornos Alimentares do IPq ((Instituto de Psiquiatria) do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).

Sinais que merecem atenção
Alterações significativas no peso, seja perda ou ganho acentuado;
Preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal;

Mudanças no comportamento alimentar, como recusa persistente em se alimentar ou episódios de compulsão;

Isolamento social e perda de interesse por refeições em grupo;

Alterações no humor, como irritabilidade, ansiedade ou depressão relacionadas à alimentação;

Sintomas físicos, como fraqueza, fadiga, tontura ou problemas digestivos

De acordo com os especialistas, os transtornos alimentares em idosos ainda são pouco identificados e muitas vezes não recebem o diagnóstico adequado.

“Embora seja normal uma leve perda de peso e massa muscular com o envelhecimento, quando ela vem acompanhada de uma redução acentuada do apetite ou sinais como sangramento nas fezes, mudanças no hábito intestinal (como diarreia contínua ou constipação) e anemia, esses indicativos devem ser vistos como alertas que precisam de avaliação detalhada”.
Rosemary Árias, presidente da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) de São Paulo

O diagnóstico dos transtornos alimentares envolve uma avaliação sobre os padrões alimentares e aspectos comportamentais, além de exame físico e avaliação da saúde mental. Já os exames laboratoriais podem identificar desequilíbrios nutricionais e metabólicos.

Transtornos alimentares mais comuns em idosos
Existem três principais formas de manifestação dos transtornos alimentares em idosos. A primeira ocorre quando o transtorno já estava presente desde a juventude e continua durante a vida adulta. Nesse grupo, a compulsão alimentar é a manifestação mais frequente, já a bulimia e a anorexia são menos comuns.

Na compulsão alimentar ocorrem episódios frequentes de consumo exagerado de alimentos, muitas vezes seguidos por sentimentos de culpa ou vergonha.

A segunda forma acontece quando algum problema de saúde preexistente desencadeia o transtorno alimentar. Isso é observado, por exemplo, em idosos que desenvolvem anorexia como consequência de depressão, luto ou medo de engasgar, um quadro bastante comum nessa faixa etária. Dessa forma, ocorre uma restrição extrema da alimentação devido ao medo intenso de ganhar peso e à distorção da imagem corporal.

Também pode surgir um transtorno alimentar já na fase madura da vida, como anorexia, bulimia ou compulsão, sem histórico anterior. São casos mais difíceis de encontrar e geralmente estão associados a outros problemas psiquiátricos.

Há ainda um outro quadro, menos frequente, conhecido como pica (também chamado de picacismo ou picofagia). Trata-se de uma alteração do paladar em que o indivíduo passa a ingerir substâncias que não são alimentos, como borra de café, terra, giz, gelo ou tecido. Esse comportamento pode estar relacionado a transtornos psíquicos, como psicose, demência e deficiência intelectual, mas também pode indicar deficiências nutricionais.

Diagnóstico e riscos para a saúde
Além de causar um sofrimento mental intenso, os transtornos alimentares em idosos podem prejudicar a realização de atividades do dia a dia e a socialização. Entre as principais complicações para o organismo, estão:

Desnutrição;

Alteração da glicose;

Atrapalhar a saúde óssea, dentária e gástrica;

Surgimento da síndrome metabólica;

Desidratação;

Deficiência de vitaminas;

Anemia;

Sarcopenia (perda de massa muscular);

Sintomas neurológicos, como demência reversível.

Formas de tratamento
O tratamento dos transtornos alimentares em idosos precisa ser personalizado e conduzido por uma equipe multidisciplinar, formada por médicos, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde. O objetivo é estabelecer hábitos alimentares saudáveis, tratar as causas físicas e emocionais e prevenir as complicações.

“Os protocolos de tratamento são semelhantes para todas as idades, porém é importante se atentar ao impacto no declínio cognitivo, e o fato de muitos idosos com transtornos alimentares apresentarem um quadro sintomático que se estende por toda a vida, não surgindo apenas no momento atual”, afirma Maria Amália Pedrosa, psiquiatra especialista em transtornos alimentares e diretora executiva da Astral (Associação Brasileira de Transtornos Alimentares)

De acordo com a especialista, a participação da família e da rede de apoio é essencial para garantir a adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida do paciente. Além disso, o acompanhamento constante permite ajustes no plano terapêutico, aumentando as chances de sucesso na recuperação.

É possível prevenir?
Sim. Entre as medidas importantes estão o incentivo a uma alimentação adequada e prazerosa, adaptada às necessidades nutricionais do idoso. Além da prática regular de atividades físicas, que contribuem tanto para o bem-estar corporal quanto para a saúde mental.

Além disso, é importante reforçar os laços familiares e sociais, já que o isolamento pode favorecer o surgimento de depressão e alterações no comportamento alimentar.

Outro ponto fundamental é realizar consultas médicas regulares, com avaliação nutricional e revisão de medicamentos que possam impactar o apetite.

“Ainda não existem dados específicos sobre a prevenção de transtornos alimentares em idosos, mas estratégias voltadas ao bem-estar mental são fundamentais. Manter uma alimentação equilibrada, sono de qualidade, prática de atividade física e, sobretudo, vínculos sociais fortalecidos ajuda a preservar a saúde emocional e reduz o risco desses distúrbios”, diz Aratangy.

Fonte: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2025/07/11/idosos-e-transtornos-alimentares-veja-sinais-que-nao-podem-ser-ignorados.htm