Pesquisa desenvolvida no Instituto & Departamento de Psiquiatria da FMUSP estuda o comportamento religioso das pessoas em risco de desenvolver esquizofrenia
O estudo, realizado no Instituto & Departamento de Psiquiatria tem como principal foco a prevenção da esquizofrenia e detectar quais fatores estariam associados ao estado de risco para desenvolver a doença, que é o tipo mais comum e grave de distúrbio psicótico, gerando grandes prejuízos para a pessoa acometida e para seus familiares. O preconceito atrelado ao doente e a sua família, a incapacidade para o trabalho e para as atividades sociais são apenas algumas das sérias consequências para quem sofre com a doença.
A partir de entrevista de triagem aplicada por uma empresa de pesquisa foi avaliado qual o comportamento das pessoas em risco de desenvolver o distúrbio. Analisados mais de 2500 adultos jovens–entre 18 e 30 anos de idade–de toda a cidade de São Paulo.
Deste total, 236 pessoas poderiam estar em risco de ter esquizofrenia e para descartar ou certificar-se deste estado, foram avaliadas cuidadosamente por psiquiatras do Instituto de Psiquiatria e 98 apresentavam pequenos e rápidos episódios de alucinações (ver ou ouvir coisas que não existem) e/ou de delírios (acreditar em coisas que não existem). Juntamente com outros critérios clínicos, elas foram classificadas como estando em risco de desenvolver esquizofrenia. Em conjunto foi pesquisado também o comportamento religioso destas pessoas, e verificado que elas iam com mais frequência a igrejas e templos religiosos.
Para Alexandre Loch, psiquiatra responsável pelo estudo foi detectado que mais especificamente: pessoas com risco de ter esquizofrenia que “ouviam vozes ou coisas” frequentavam mais cultos religiosos do que a média da população geral. “Levantamos a hipótese de que a religião no Brasil é um meio através do qual às pessoas em risco para psicose lidam com vivências anormais que antecedem a doença”. Alerta que pessoas que “ouvem coisas” foram atrás de cultos religiosos comunitários para acomodar suas vivências. De acordo com o pesquisador a questão que se faz é a seguinte: esta acomodação é permanente, ou a pessoa desenvolverá esquizofrenia mesmo assim em algum momento? A religião de fato ajudaria na prevenção da esquizofrenia, ao proporcionar um contexto cultural para vivências alucinatórias (prodrômicas)? A pesquisa sugere que a resposta a esta última pergunta é sim.
Conclui que este resultado/achado é fundamental também na questão de organização de serviços de prevenção. Em países do primeiro mundo a avaliação do risco de esquizofrenia é feita por referência e contrarreferência de pacientes por médicos. Em países com escassez de serviços de saúde mental como o Brasil, este método não funciona. As pessoas buscam formas alternativas de ajuda mental como a religião. Além das iniciativas clássicas de prevenção, temos que focar também nesses locais para acharmos pessoas em risco e para prevenir o desenvolvimento da esquizofrenia.
Ref.: Loch AA et al., 2019, Schizophrenia Research.
Prof. Dr. Alexandre A Loch
Graduação em medicina pela Universidade de São Paulo (2002) e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Atualmente é pesquisador e médico assistente do Instituto de Psiquiatria da FMUSP, onde desempenha as atividades: 1) coordenador de ensino e pesquisa do Ambulatório de Psicoses do LIM-27, 2) médico assistente/supervisor da Enfermaria de Ansiedade e Depressão, 3) médico supervisor do serviço de Interconsulta Psiquiátrica (Instituto Central). Possui projetos de pesquisa relacionados à esquizofrenia nas áreas de: 1) estigma, 2) genética e cognição, 3) novas intervenções para os sintomas da esquizofrenia. (Fonte: Currículo Lattes)