Dr. Daniel Costa, do IPq, fala sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo/TOC, em matéria do g1.
Esterilização x assepsia: saiba quando a limpeza contra germes é essencial e quando vira ‘paranoia’
Se preocupar com a limpeza do ambiente é muitas vezes uma medida saúde, mas o exagero nos rituais pode caracterizar um quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Por Júlia Carvalho, g1
Se preocupar com a limpeza do ambiente é muitas vezes uma medida saúde, afinal, ninguém gosta de viver na sujeira. Há quem tenha rituais semanais ou até diários para a sujeira não se acumular. Mas quando a preocupação se torna paranoia?
A preocupação exagerada com sujeira e com contaminação por germes é uma das principais manifestações do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Daniel Costa, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, explica que, para serem caracterizadas como uma obsessão, as manias de limpeza e lavagem devem ocupar um tempo significativo da vida da pessoa. (veja mais abaixo)
“Esses sintomas têm que ocupar mais de uma hora por dia e devem estar a um incômodo. O transtorno se caracteriza quando a preocupação gera uma angústia, uma ansiedade” detalha o psiquiatra.
Os microbiologistas alertam que, no dia a dia, não é preciso que a limpeza seja feita a todo momento para que se evite a contaminação. Além disso, apenas em algumas situações específicas a esterilização é necessária.
(Esta reportagem faz parte de uma série do g1 sobre germes que já explicou se a regra dos cinco segundos funciona, importância do contato das crianças com os microrganismos e vai falar sobre quais são os microrganismos nocivos mais comuns no dia a dia).
Desinfecção x assepsia
Antes de entender se a preocupação com a limpeza é obsessão ou só hábito, é preciso fazer uma diferenciação entre dois tipos de limpeza – a desinfecção e a assepsia:
- Desinfecção: é o processo de eliminação dos microrganismos nocivos à saúde de determinada superfície ou até mesmo da pele;
- Assepsia: também conhecida como esterilização, é a eliminação total de microrganismos de uma superfície.
Por serem processos diferentes, nem todos os produtos são capazes de eliminar totalmente os germes (e esse processo nem sempre é necessário no dia a dia).
Cristiane Guzzo, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, explica que a assepsia é muito mais difícil de ser realizada em casa, porque requer procedimentos e produtos que realmente eliminem todos os germes existentes na superfície.
“O processo de esterilização em geral só ocorre quando é um protocolo médico ou quando é aplicado um método que elimina por completo qualquer microrganismo”, comenta a professora.
Os especialistas também explicam que, para não se contaminar no dia a dia, não é necessário esterilizar a superfície ou o alimento.
“A assepsia é essencial quando você vai colocar uma solução na veia de uma pessoa, por exemplo, ou realizar um procedimento médico. Na vida real, no caso de uma comida, ela não precisa estar estéril. Somente com quantidades de microrganismos a níveis seguros”, compara a microbiologista.
Assim, somente a desinfecção já é o suficiente para evitar qualquer tipo de doença que possa ser contraída pelo contato com itens contaminados.
Hábito ou mania?
Para ser entendido como mania, o hábito de limpeza precisa representar uma interferência muito bem definida na rotina da pessoa.
Daniel explica que, quando há uma obsessão, a pessoa pode deixar de fazer outras coisas e até se atrasar para algum compromisso por conta dos sintomas.
“Em casos extremos, isso pode levar até a complicações físicas, como uma dermatite de contato nas mãos, por exemplo, por conta do excesso de lavagem e uso de produtos abrasivos”, relata.
Ele comenta que o que difere o comportamento obsessivo de um simples gosto são principalmente três fatores:
- Tempo dedicado a atividades de limpeza;
- Interferência que esse tipo de atividade tem na vida da pessoa;
- Incômodo gerado pela não realização dessa tarefa.
“Uma pessoa que tem uma preocupação exagerada com sujeira e desenvolve rituais de limpeza se difere de quem tem um gosto a mais por limpeza porque o sofrimento associado a essa preocupação é muito significativo”, analisa.
Para identificar se o hábito está se tornando algo obsessivo, é importante que se fique atento aos três fatores listados, principalmente tentando perceber quanto tempo a limpeza consome no dia a dia.
O psiquiatra também recomenda que é essencial procurar ajuda médica ou psicológica para uma melhor avaliação e um tratamento adequado.