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Eduardo Aratangy, do IPq, fala sobre

Quais são os antidepressivos mais associados ao ganho de peso

Jéssica Moura

11 de julho de 2024

Diferentes tipos de antidepressivos estão associados a alterações específicas de peso entre pacientes. Essa é a conclusão de um estudo clínico simulado feito por pesquisadores do Departamento de Medicina Populacional de Harvard, publicado nesta segunda-feira, 1 de julho, no jornal Annals of Internal Medicine. Quatro de oito remédios de primeira linha levaram ao ganho de peso, e apenas um corroborou com o emagrecimento.

Após seis meses do início do tratamento, sertralina, escitalopram, paroxetina e duloxetina foram associados ao ganho ponderal e a um risco 5% maior de engordar. Já com a fluoxetina, o peso se manteve, enquanto a bupropiona foi associada a menor ganho. A análise deve contribuir para reorientar tratamentos psiquiátricos, considerando as mudanças metabólicas causadas pelos medicamentos, uma vez que transtornos como depressão e ansiedade estão relacionados à qualidade de vida e estigmas sobre a aparência.

O psiquiatra Dr. Eduardo Aratangy, do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq), diz que os médicos devem considerar essas mudanças ao prescrever a medicação, já que o ganho de peso é um fator de abandono do tratamento. “Uma pessoa já deprimida pode se sentir pior com o próprio corpo, deixando de fazer atividade física ou se alimentar corretamente”, segundo ele.

Análise

Os pesquisadores calcularam o risco de ganho ponderal após o início do tratamento com antidepressivos, usando a sertralina como referência, um dos mais prescritos. A análise constatou que os usuários de escitalopram, paroxetina e duloxetina tiveram um aumento de peso de 0,3 a 0,4 kg nos seis primeiros meses de tratamento, com um risco de 10% a 15% de ganhar 5% a mais do peso inicial.

“Quanto mais sedativa uma medicação, maior ganho de peso, tanto por mecanismos indiretos, como maior tempo de repouso e menor gasto de energia, quanto diretos, como aumento de apetite por carboidrato, conforme observado com a paroxetina”, explicou o Dr. Eduardo. Ele acrescentou que essas medicações associadas ao ganho de peso devem ser evitadas para pacientes obesos ou com síndrome metabólica. Não foram verificadas mudanças de peso entre os usuários de fluoxetina.

Esses medicamentos (sertralina, escitalopram, paroxetina e fluoxetina) são inibidores da recaptação de serotonina. Assim, contribuem para a melhora no humor em quadros de ansiedade. A hipótese é que, apesar do tratamento, a estimulação desses receptores contribui para os efeitos colaterais. A duloxetina é um inibidor duplo de neurotransmissores e atua tanto na serotonina quanto na noradrenalina, sendo indicada para casos de transtorno depressivo maior. Outros estudos apontam que a melhora no quadro depressivo pelo uso desses medicamentos favorece o apetite, resultando em ganho de peso.

Já com a bupropiona, os pesquisadores aferiram uma queda de 0,22 kg e uma chance 15% menor de aumento em 5% do peso inicial, em comparação com a sertralina. Segundo eles, esses resultados se devem ao fato de a bupropiona ser um inibidor de dopamina e recaptador de norepinefrina.

“Ele tem um mecanismo diferente, que atua nos centros de recompensa e aumenta o gasto energético. Então, é uma medicação bem ativadora, e por essa razão é indicada para situações em que o indivíduo está desenergizado, com pouca vontade ou compulsão alimentar. No entanto, ela é mais difícil de usar em quadros ansiosos, nos quais são preferíveis os inibidores seletivos da recaptação de serotonina”, detalhou o Dr. Eduardo.

Ainda que seja relacionada ao menor ganho de peso, isso não faz da bupropiona a melhor opção de antidepressivo. “A bupropiona é interessante em pacientes que têm risco cardiovascular, são obesos e têm compulsão alimentar. Contudo, não é um antidepressivo completo; os padrões-ouro são a sertralina e o ecitalopram. Em quadros de ansiedade, a bupropiona não é tão eficaz, sendo preferíveis outros antidepressivos. Além disso, ela também diminui o limiar convulsivo e pode ser perigosa para pacientes com lesões no sistema nervoso central e história de epilepsia”, alerta o psiquiatra.

Diante dos dados elencados na pesquisa, os médicos e pacientes podem fazer escolhas mais embasadas conforme as necessidades do tratamento e o quadro psíquico. Por isso, o Dr. Eduardo diz que o ranking traçado pelo estudo é um instrumento que contribui para a escolha do remédio. “É mais um parâmetro para decisão. Se o paciente já tem tendência ao ganho de peso e à síndrome metabólica, é melhor evitar a paroxetina, o ecitalopram e a duoxetina, e preferir a fluoxetina e a bupropiona”.

Estudo clínico

O efeito colateral do ganho de peso já era conhecido, mas pela primeira vez foi realizado um estudo clínico simulado sobre o tema. A coorte considerou os registros em prontuários eletrônicos de pacientes de oito sistemas de saúde dos Estados Unidos e analisou as anotações referentes a alterações de peso deles após a prescrição de tratamentos com antidepressivos.

Com isso, foi possível estabelecer uma comparação entre os efeitos do uso de cada variedade de medicamento. Os pesquisadores selecionaram registros de adultos entre 20 e 80 anos diagnosticados com depressão ou ansiedade e que começaram o tratamento com um dos oito antidepressivos de primeira linha pela primeira vez.

O estudo desconsiderou pessoas que tiveram câncer, engravidaram até um ano antes de dar início ao tratamento, ou que fizeram cirurgia bariátrica três anos antes do uso dos antidepressivos, pois esses fatores poderiam impactar também na mudança de peso.

Com isso, restaram 183.118 prontuários, cujos dados foram levantados entre julho de 2010 e dezembro de 2019. Ao todo, 35% dos pacientes eram homens e 65%, mulheres, acompanhados ao longo de dois anos. A cada seis meses, os pesquisadores compararam as mudanças no peso.

O objetivo do estudo era que os resultados respaldassem a revisão de prescrições diante da variedade de efeitos e opções de antidepressivos no mercado, de forma a adaptar os tratamentos às condições de saúde metabólica e de peso dos pacientes.

Consumo de antidepressivos

Além de ansiedade e depressão, os antidepressivos são remédios prescritos com frequência pelos profissionais de saúde para tratar condições como estresse pós-traumático e dor crônica, por exemplo. Como o uso não é indiscriminado, cada quadro de saúde mental requer um tratamento específico, o que torna mais complexa a equação entre a escolha para equilibrar o medicamento e o efeito colateral sobre o peso.

Segundo o Dr. Eduardo, o ideal nos tratamentos psiquiátricos é prescrever a monoterapia, mas uma estratégia para equilibrar as consequências da medicação é associar mais de um remédio, aliado a mudanças comportamentais e de estilo de vida, como atividades físicas e dieta balanceada. “É possível fazer associações que ajudem na perda de peso em pacientes com diabetes e depressão. Uma opção é usar psicoestimulantes com anfetaminas, por exemplo”. Outra estratégia é ajustar a dose do medicamento ou substituí-lo por outro tipo com o efeito antidepressivo.

No Brasil, o consumo dessas substâncias disparou depois da pandemia de covid-19. Segundo dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF), a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor  de 36% entre 2019 e 2022, passando de 82,6 milhões de unidades para 112,7 milhões. Uma meta-análise verificou que a prevalência de casos de depressão no Brasil é de 17,38%, uma das maiores da América Latina.

 

https://portugues.medscape.com/verartigo/6511347